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Ó Maria, nós nos entregamos a Ti

Santa Rita, ao longo da sua vida, sentiu no corpo o sofrimento e a dor. A oração foi o seu refúgio. Lembremo-nos que Santa Rita também está connosco. Ela é a advogada das causas impossíveis.

Unamo-nos ao Santo Padre, neste momento difícil para os povos deste mundo, para nós, para cada um e cada uma, e com ele rezemos a Maria, que é Saúde dos Enfermos.

 


Ó Maria,
Tu sempre brilhas em nosso caminho como sinal de salvação e esperança. Nós nos entregamos a Ti, Saúde dos Enfermos, que na Cruz foste associada à dor de Jesus, mantendo firme a Tua fé. Tu, Salvação do povo romano, sabes do que precisamos e temos a certeza de que garantirás, como em Caná da Galiléia, que a alegria e a celebração possam retornar após este momento de provação. Ajuda-nos, Mãe do Divino Amor, a nos conformarmos com a vontade do Pai e a fazer o que Jesus nos disser. Ele que tomou sobre si nossos sofrimentos e tomou sobre si nossas dores para nos levar, através da Cruz, à alegria da Ressurreição. Amém. Sob a Tua proteção, buscamos refúgio, Santa Mãe de Deus. Não desprezes as nossas súplicas, nós que estamos na provação, e livra-nos de todo perigo, Virgem gloriosa e abençoada. (retirado de Vatican News)


 

Invocar São José

Hoje, 19 de março de 2020, solenidade de São José, o Papa Francisco recordou a santidade e a vocação de São José. São José foi um homem que amou sempre a Deus, mesmo quando as dúvidas assolaram o seu espírito: “Na vida, no trabalho, na família, na alegria e na dor ele sempre buscou e amou o Senhor, merecendo nas Escrituras o reconhecimento de homem justo e sábio.” Pede, ainda o Santo Padre, que invoquemos sempre São José, especialmente nos momentos difíceis, e confiemos a “existência a este grande Santo.”

Na homilia convidou, também, todas as famílias, fiéis e comunidades religiosas a unirem-se espiritualmente e a rezarem o terço às 21h, com os mistérios luminosos. O próprio Papa assim fará. Acompanhar-nos-á nesta oração. “Ao rosto luminoso e transfigurado de Cristo e ao seu Coração, nos conduza Maria, Mãe de Deus, saúde dos enfermos, à qual nos dirigimos com a oração do Terço, sob o olhar amoroso de São José, protetor da Santa Família e das nossas famílias. E peçamos que Ele proteja as nossas famílias . De modo especial, que proteja os doentes e as pessoas que estão cuidados dos doentes: médicos, enfermeiros, enfermeiras e os voluntários, que arriscam a vida neste serviço.”

Adaptado por DR, a partir de Vatican News

Comunicado do Reitor do Santuário

Ao tomarmos conhecimento das recomendações da Direção-Geral da Saúde e de um conjunto de medidas extraordinárias e de caráter urgente como resposta à situação epidemiológica do novo Coronavírus – COVID 19 e em consonância com as indicações do Bispo Diocesano e da Conferência Episcopal Portuguesa, informamos:

1. Estão suspensas todas as celebrações comunitárias da Santa Missa (dominical e ferial) até ser superada a atual situação de emergência.

2. Estão suspensas as celebrações, próprias deste tempo da quaresma, Confissões quaresmais (sábado), Via-Sacra (sexta-feira), Adoração Eucarística (domingo).

3. Estão suspensas todas as atividades da catequese, reuniões e todas as festas agendadas para este período.

4. Estão suspensas todas as peregrinações de grupos e celebrações agendadas para este Santuário.

5. Todos os noivos que têm o Sacramento de Matrimónio marcado para este santuário, devem procurar esclarecimento na reitoria, de forma a obedecermos a todos os procedimentos de segurança.

6. Mantemos a Igreja aberta para a oração pessoal, mas não são permitidas atividades de grupos alargados.

7. O grupo de apoio ao peregrino suspende o seu habitual acolhimento, ao domingo, no parque do Santuário.

Estaremos atentos à evolução de todas as recomendações, quer das autoridades civis quer eclesiásticas, e faremos chegar as nossas decisões, sempre que se alterar algum destes procedimentos.

Por último, quero confiar todo este momento de provação à interceção e proteção de Santa Rita. Que por ela Deus nos faça chegar a sua “Bênção e nos conceda a Paz”.

Ermesinde e Santuário de Santa Rita

13 de março de 2020

Pa Samuel Guedes, Reitor

Bispo do Porto – Quaresma: a alegria da vida nova [vídeo]

 

NOTA PASTORAL do Bispo do Porto

Quaresma: a alegria da vida nova

Caras e caros fiéis em Cristo desta nossa Diocese do Porto,

desde sempre, a quaresma interliga-se com o batismo: quer porque, na Igreja antiga, este só se administrava na vigília pascal, quer porque todos somos chamados a recuperar o sentido de novidade de vida, no confronto com o Senhor Jesus, em cuja morte e ressurreição fomos batizados. E o batismo constitui precisamente a referência central do nosso programa pastoral deste ano.

Para esta novidade de vida, expressa numa contínua conversão que passa pela confissão e comunhão sacramentais, a Igreja propõe-nos as tradicionais vias da escuta da palavra de Deus, oração, penitência e esmola. Nesta linha, convido: à leitura do evangelista do ano, São Mateus; mais oração pessoal, juntamente com a Missa de Domingo, a levar muito a sério; não obstante a necessidade de se repensarem as formas habituais de penitência, continuam válidas a abstinência de carnes em todas as sextas feiras e o jejum na quarta feira de cinzas e na sexta feira santa, dia da morte do Senhor; renúncia ao supérfluo, em função da partilha fraterna.

Esta última exprime a nossa força de vontade para resistir às insídias do mal, opor-se à ditadura das pequenas coisas que tentam submeter a nossa liberdade, reagir à tentação do comodismo e materialismo de vida e defender-se da contínua tentação de nos tornamos cúmplices das injustiças do mundo. Por isso mesmo, nenhuma Paróquia deixará de lembrar isto aos fiéis e nenhum deles esquecerá este dado.

Consultados os diversos órgãos de participação diocesanos, decidi que o produto desta partilha quaresmal, para além de alguma reserva para ocorrer a situações particularmente graves que venham a surgir, se destine a colaborar na adaptação de espaços e instalação de «camas de emergência» para os sem-abrigo, realidade chocante com a qual somos confrontados todos os dias.

Vivamos esta quaresma cristãmente para saborearmos e participarmos na alegria e na santidade do Ressuscitado. Santa quaresma!

+ Manuel Linda

Vosso bispo e irmão

Peregrinação de Março – Quaresma

Em tempo quaresmal, somos convidados a contemplar a cruz, para vivermos e celebrarmos a paixão de Jesus Cristo.

Santa Rita meditava muitas horas na paixão de Cristo. Meditava nos insultos, nos desprezos, nas ingratidões que sofreu no caminho para o Calvário.

Foi durante a Quaresma do ano 1443, em a Cássia, que ela pediu fervorosamente ao Senhor que lhe concedesse ser participante dos seus sofrimentos na cruz. Um dia, prostrada aos pés do Crucificado, pediu ao Senhor que lhe fizesse sentir um pouco daquela imensa dor que ele tinha sofrido na cruz.

Então, como conta a história, da coroa da cabeça da imagem do Redentor, desprendeu-se um espinho, que se cravou na fronte da santa, causando-lhe intensíssimas dores até à morte.

Ao “colo” de Santa Rita, vivamos todos esta peregrinação quaresmal, no dia 22 de março, às 10.00h, neste nosso querido santuário. Podeis trazer as rosas nesse dia. Será o domingo da alegria. E teremos uma alegria maior se o celebrarmos todos juntos.

Conto convosco.

Pe Samuel Guedes, Reitor

Papa Francisco – Mensagem quaresmal 2020

Mensagem do Papa Francisco para a Quaresma 2020

«Em nome de Cristo, suplicamo-vos: reconciliai-vos com Deus» (2 Cor 5, 20)

Queridos irmãos e irmãs!

O Senhor concede-nos, também neste ano, um tempo propício para nos prepararmos para celebrar, de coração renovado, o grande Mistério da morte e ressurreição de Jesus, fundamento da vida cristã pessoal e comunitária. Com a mente e o coração, devemos voltar continuamente a este Mistério. Com efeito, o mesmo não cessa de crescer em nós na medida em que nos deixarmos envolver pelo seu dinamismo espiritual e aderirmos a ele com uma resposta livre e generosa.

1. O Mistério pascal, fundamento da conversão

A alegria do cristão brota da escuta e receção da Boa Nova da morte e ressurreição de Jesus: o kerygma. Este resume o Mistério dum amor «tão real, tão verdadeiro, tão concreto, que nos proporciona uma relação plena de diálogo sincero e fecundo» (Francisco, Exortação apostólica Christus vivit, 117). Quem crê neste anúncio rejeita a mentira de que a nossa vida teria origem em nós mesmos, quando na realidade nasce do amor de Deus Pai, da sua vontade de dar vida em abundância (cf. Jo 10, 10). Se, pelo contrário, se presta ouvidos à voz persuasora do «pai da mentira» (Jo 8, 44), corre-se o risco de precipitar no abismo do absurdo, experimentando o inferno já aqui na terra, como infelizmente dão testemunho muitos acontecimentos dramáticos da experiência humana pessoal e coletiva.
Por isso, nesta Quaresma de 2020, quero estender a todos os cristãos o mesmo que escrevi aos jovens na Exortação apostólica Christus vivit: «Fixa os braços abertos de Cristo crucificado, deixa-te salvar sempre de novo. E quando te aproximares para confessar os teus pecados, crê firmemente na sua misericórdia que te liberta de toda a culpa. Contempla o seu sangue derramado pelo grande amor que te tem e deixa-te purificar por ele. Assim, poderás renascer sempre de novo» (n. 123). A Páscoa de Jesus não é um acontecimento do passado: pela força do Espírito Santo é sempre atual e permite-nos contemplar e tocar com fé a carne de Cristo em muitas pessoas que sofrem.

2. Urgência da conversão

É salutar uma contemplação mais profunda do Mistério pascal, em virtude do qual nos foi concedida a misericórdia de Deus. Com efeito, a experiência da misericórdia só é possível «face a face» com o Senhor crucificado e ressuscitado, «que me amou e a Si mesmo Se entregou por mim» (Gl 2, 20). Um diálogo coração a coração, de amigo a amigo. Por isso mesmo, é tão importante a oração no tempo quaresmal. Antes de ser um dever, esta expressa a necessidade de corresponder ao amor de Deus, que sempre nos precede e sustenta. De facto, o cristão reza ciente ciente de ser indignamente amado. A oração poderá assumir formas diferentes, mas o que conta verdadeiramente aos olhos de Deus é que ela penetre profundamente em nós, chegando a romper a dureza do nosso coração, para o converter cada vez mais a Ele e à sua vontade.
Por isso, neste tempo favorável, deixemo-nos conduzir como Israel ao deserto (cf. Os 2, 16), para podermos finalmente ouvir a voz do nosso Esposo, deixando-a ressoar em nós com maior profundidade e disponibilidade. Quanto mais nos deixarmos envolver pela sua Palavra, tanto mais conseguiremos experimentar a sua misericórdia gratuita por nós. Portanto, não deixemos passar em vão este tempo de graça, na presunçosa ilusão de sermos nós o dono dos tempos e modos da nossa conversão a Ele.

3. A vontade apaixonada que Deus tem de dialogar com os seus filhos

Não devemos jamais dar por descontado o facto de o Senhor nos proporcionar uma vez mais um tempo favorável para a nossa conversão. Esta nova oportunidade deveria suscitar em nós um sentido de gratidão e sacudir-nos do nosso torpor. Não obstante a presença do mal, por vezes até dramática, tanto na nossa existência como na vida da Igreja e do mundo, este período que nos é oferecido para uma mudança de rumo manifesta a vontade tenaz de Deus de não interromper o diálogo de salvação connosco. Em Jesus crucificado, que Deus «fez pecado por nós» (2 Cor 5, 21), esta vontade chegou ao ponto de fazer recair sobre o seu Filho todos os nossos pecados, como se houvesse – segundo o Papa Bento XVI – um «virar-se de Deus contra Si próprio» (Encíclica Deus caritas est, 12). De facto, Deus ama também os seus inimigos (cf. Mt 5, 43-48).
O diálogo que Deus quer estabelecer com cada homem, por meio do Mistério pascal do seu Filho, não é como o diálogo atribuído aos habitantes de Atenas, que «não passavam o tempo noutra coisa senão a dizer ou a escutar as últimas novidades» (At17, 21). Este tipo de tagarelice, ditado por uma curiosidade vazia e superficial, carateriza a mundanidade de todos os tempos e, hoje em dia, pode insinuar-se também num uso pervertido dos meios de comunicação.

4. Uma riqueza que deve ser partilhada, e não acumulada só para si mesmo

Colocar o Mistério pascal no centro da vida significa sentir compaixão pelas chagas de Cristo crucificado presentes nas inúmeras vítimas inocentes das guerras, das prepotências contra a vida desde a do nascituro até à do idoso, das variadas formas de violência, dos desastres ambientais, da iníqua distribuição dos bens da terra, do tráfico de seres humanos em todas as suas formas e da sede desenfreada de lucro, que é uma forma de idolatria.
Também hoje é importante chamar os homens e mulheres de boa vontade à partilha dos seus bens com os mais necessitados através da esmola, como forma de participação pessoal na edificação dum mundo mais justo. A partilha, na caridade, torna o homem mais humano; com a acumulação, corre o risco de embrutecer, fechado no seu egoísmo. Podemos e devemos ir mais além, considerando as dimensões estruturais da economia. Por este motivo, na Quaresma de 2020 – mais concretamente, de 26 a 28 de março –, convoquei para Assis jovens economistas, empresários e agentes de mudança (changemakers), com o objetivo de contribuir para delinear uma economia mais justa e inclusiva do que a atual. Como várias vezes se referiu no magistério da Igreja, a política é uma forma eminente de caridade (cf. PIO XI, Discurso à FUCI, 18.12.1927). E sê-lo-á igualmente ocupar-se da economia com o mesmo espírito evangélico, que é o espírito das Bem-aventuranças.
Invoco a intercessão de Maria Santíssima sobre a próxima Quaresma, para que acolhamos o apelo a deixarmo-nos reconciliar com Deus, fixemos o olhar do coração no Mistério pascal e nos convertamos a um diálogo aberto e sincero com Deus. Assim, poderemos tornar-nos naquilo que Cristo diz dos seus discípulos: sal da terra e luz do mundo (cf. Mt 5, 13.14).

Papa Francisco

Roma, em São João de Latrão, 7 de outubro de 2019,
Memória de Nossa Senhora do Rosário

 

Peregrinação dos Doentes

No passado Domingo, dia 23, realizou-se a habitual peregrinação mensal, desta vez dedicada aos doentes. No mês de fevereiro e no dia 11, celebra-se o dia mundial dos doentes, na festa de Nª Senhora de Lourdes. O santuário de Santa Rita não quis deixar passar esta data sem dedicar uma das suas peregrinações mensais aos nossos queridos doentes. Muitos ali acorrem, durante todo o ano, para levar, junto da imagem de Santa Rita, as suas preocupações e sofrimentos, pedindo a sua intercessão.

Foi uma celebração emotiva com o santuário repleto. Presidiu o Reitor, Pe Samuel Guedes, que se dirigiu aos doentes, convidando-os a “oferecer o seu sofrimento pela conversão da sociedade. Num mundo que necessita de redescobrir o serviço por amor, amando até ao fim, como Jesus Cristo, o verdadeiro Mestre, os doentes ensinam-nos que a experiência do sofrimento, torna-se uma generosa entrega da sua vida, por amor, para servir, para resgatar e trazer vida nova. Como temos que agradecer a Deus o Dom que sois! Teremos nós também de pedir a Deus que vos acompanhe e fortaleça na caminha, às vezes muito difícil”.

Foi administrado o sacramento da Unção do Doentes a mais de 100 pessoas e a celebração terminou com a bênção com o Santíssimo Sacramento de todos os doentes.

Apesar de celebrarmos a nossa peregrinação dos doentes fora do dia, não deixamos de estar tão próximos do dia 11 de fevereiro. Pois esteve presente na eucarístia uma imagem de Nª Sª da Conceição, foi assim que Ela se apresentou em Lourdes à pastorinha Bernardete: “Eu sou a Imaculada Conceição”. Junta da imagem de Nª Senhora esteve uma relíquia: um pedaço de pedra da gruta de Lourdes. Foi outro momento muito forte que alegrou o coração de todos os presentes.

Lembra-te que és pó e ao pó voltarás

Diz-nos o Papa Francisco: “A Quaresma não é o tempo para fazer cair sobre o povo inúteis moralismos, mas para reconhecer que as nossas míseras cinzas são amadas por Deus”. No dia 26 de fevereiro, nas celebrações das 8.30h e 18.30h horas, iniciámos o caminho quaresmal em direção à Páscoa do Senhor ressuscitado.

“Lembra-te que és pó e ao pó voltarás” foi o tema escolhido pelo Reitor, recordando o versículo do livro de Génesis. Cada um de nós foi veio da terra e é à terra que regressará. Mesmo na sua condição humana, com a debilidade e fragilidade que caracterizam essa condição, Deus não deixa de nos amar e de nos dar a vida. O símbolo traçado na testa de cada cristão lembra-nos que somos filhos de Deus.

 

Mensagem do Papa para a celebração do Dia Mundial da Paz

A PAZ COMO CAMINHO DE ESPERANÇA: DIÁLOGO, RECONCILIAÇÃO E CONVERSÃO ECOLÓGICA

1. A paz, caminho de esperança face aos obstáculos e provações

A paz é um bem precioso, objeto da nossa esperança; por ela aspira toda a humanidade. Depor esperança na paz é um comportamento humano que alberga uma tal tensão existencial, que o momento presente, às vezes até custoso, «pode ser vivido e aceite, se levar a uma meta e se pudermos estar seguros dessa meta, se esta meta for tão grande que justifique a canseira do caminho».[1] Assim, a esperança é a virtude que nos coloca a caminho, dá asas para continuar, mesmo quando os obstáculos parecem intransponíveis.

A nossa comunidade humana traz, na memória e na carne, os sinais das guerras e conflitos que têm vindo a suceder-se, com crescente capacidade destruidora, afetando especialmente os mais pobres e frágeis. Há nações inteiras que não conseguem libertar-se das cadeias de exploração e corrupção que alimentam ódios e violências. A muitos homens e mulheres, crianças e idosos, ainda hoje se nega a dignidade, a integridade física, a liberdade – incluindo a liberdade religiosa –, a solidariedade comunitária, a esperança no futuro. Inúmeras vítimas inocentes carregam sobre si o tormento da humilhação e da exclusão, do luto e da injustiça, se não mesmo os traumas resultantes da opressão sistemática contra o seu povo e os seus entes queridos.

As terríveis provações dos conflitos civis e dos conflitos internacionais, agravadas muitas vezes por violências desalmadas, marcam prolongadamente o corpo e a alma da humanidade. Na realidade, toda a guerra se revela um fratricídio que destrói o próprio projeto de fraternidade, inscrito na vocação da família humana.

Sabemos que, muitas vezes, a guerra começa pelo facto de não se suportar a diversidade do outro, que fomenta o desejo de posse e a vontade de domínio. Nasce, no coração do homem, a partir do egoísmo e do orgulho, do ódio que induz a destruir, a dar uma imagem negativa do outro, a excluí-lo e cancelá-lo. A guerra nutre-se com a perversão das relações, com as ambições hegemónicas, os abusos de poder, com o medo do outro e a diferença vista como obstáculo; e simultaneamente alimenta tudo isso.

Como fiz notar durante a recente viagem ao Japão, é paradoxal que «o nosso mundo viva a dicotomia perversa de querer defender e garantir a estabilidade e a paz com base numa falsa segurança sustentada por uma mentalidade de medo e desconfiança, que acaba por envenenar as relações entre os povos e impedir a possibilidade de qualquer diálogo. A paz e a estabilidade internacional são incompatíveis com qualquer tentativa de as construir sobre o medo de mútua destruição ou sobre uma ameaça de aniquilação total. São possíveis só a partir duma ética global de solidariedade e cooperação ao serviço dum futuro modelado pela interdependência e a corresponsabilidade na família humana inteira de hoje e de amanhã».[2]

Toda a situação de ameaça alimenta a desconfiança e a retirada para dentro da própria condição. Desconfiança e medo aumentam a fragilidade das relações e o risco de violência, num círculo vicioso que nunca poderá levar a uma relação de paz. Neste sentido, a própria dissuasão nuclear só pode criar uma segurança ilusória.

Por isso, não podemos pretender manter a estabilidade no mundo através do medo da aniquilação, num equilíbrio muito instável, pendente sobre o abismo nuclear e fechado dentro dos muros da indiferença, onde se tomam decisões socioeconómicas que abrem a estrada para os dramas do descarte do homem e da criação, em vez de nos guardarmos uns aos outros.[3] Então como construir um caminho de paz e mútuo reconhecimento? Como romper a lógica morbosa da ameaça e do medo? Como quebrar a dinâmica de desconfiança atualmente prevalecente?

Devemos procurar uma fraternidade real, baseada na origem comum de Deus e vivida no diálogo e na confiança mútua. O desejo de paz está profundamente inscrito no coração do homem e não devemos resignar-nos com nada de menos.

2. A paz, caminho de escuta baseado na memória, solidariedade e fraternidade

Os sobreviventes aos bombardeamentos atómicos de Hiroxima e Nagasáqui – denominados os hibakusha – contam-se entre aqueles que, hoje, mantêm viva a chama da consciência coletiva, testemunhando às sucessivas gerações o horror daquilo que aconteceu em agosto de 1945 e os sofrimentos indescritíveis que se seguiram até aos dias de hoje. Assim, o seu testemunho aviva e preserva a memória das vítimas, para que a consciência humana se torne cada vez mais forte contra toda a vontade de domínio e destruição. «Não podemos permitir que as atuais e as novas gerações percam a memória do que aconteceu, aquela memória que é garantia e estímulo para construir um futuro mais justo e fraterno».[4]

Como eles, há muitos, em todas as partes do mundo, que oferecem às gerações futuras o serviço imprescindível da memória, que deve ser preservada não apenas para evitar que se voltem a cometer os mesmos erros ou se reproponham os esquemas ilusórios do passado, mas também para que a memória, fruto da experiência, constitua a raiz e sugira a vereda para as opções de paz presentes e futuras.

Mais ainda, a memória é o horizonte da esperança: muitas vezes, na escuridão das guerras e dos conflitos, a lembrança mesmo dum pequeno gesto de solidariedade recebida pode inspirar opções corajosas e até heroicas, pode colocar em movimento novas energias e reacender nova esperança nos indivíduos e nas comunidades.

Abrir e traçar um caminho de paz é um desafio muito complexo, pois os interesses em jogo, nas relações entre pessoas, comunidades e nações, são múltiplos e contraditórios. É preciso, antes de mais nada, fazer apelo à consciência moral e à vontade pessoal e política. Com efeito, a paz alcança-se no mais fundo do coração humano, e a vontade política deve ser incessantemente revigorada para abrir novos processos que reconciliem e unam pessoas e comunidades.

O mundo não precisa de palavras vazias, mas de testemunhas convictas, artesãos da paz abertos ao diálogo sem exclusões nem manipulações. De facto, só se pode chegar verdadeiramente à paz quando houver um convicto diálogo de homens e mulheres que buscam a verdade mais além das ideologias e das diferentes opiniões. A paz é uma construção que «deve estar constantemente a ser edificada»,[5] um caminho que percorremos juntos procurando sempre o bem comum e comprometendo-nos a manter a palavra dada e a respeitar o direito. Na escuta mútua, podem crescer também o conhecimento e a estima do outro, até ao ponto de reconhecer no inimigo o rosto dum irmão.

Por conseguinte, o processo de paz é um empenho que se prolonga no tempo. É um trabalho paciente de busca da verdade e da justiça, que honra a memória das vítimas e abre, passo a passo, para uma esperança comum, mais forte que a vingança. Num Estado de direito, a democracia pode ser um paradigma significativo deste processo, se estiver baseada na justiça e no compromisso de tutelar os direitos de cada um, especialmente se vulnerável ou marginalizado, na busca contínua da verdade.[6] Trata-se duma construção social em contínua elaboração, para a qual cada um presta responsavelmente a própria contribuição, a todos os níveis da comunidade local, nacional e mundial.

Como assinalava o Papa São Paulo VI, «a dupla aspiração – à igualdade e à participação – procura promover um tipo de sociedade democrática. (…). Isto, de per si, já diz bem qual a importância de uma educação para a vida em sociedade, em que, para além da informação sobre os direitos de cada um, seja recordado também o seu necessário correlativo: o reconhecimento dos deveres de cada um em relação aos outros. O sentido e a prática do dever são, por sua vez, condicionados pelo domínio de si mesmo, pela aceitação das responsabilidades e das limitações impostas ao exercício da liberdade do indivíduo ou do grupo».[7]

Pelo contrário, a fratura entre os membros duma sociedade, o aumento das desigualdades sociais e a recusa de empregar os meios para um desenvolvimento humano integral colocam em perigo a prossecução do bem comum. Inversamente, o trabalho paciente, baseado na força da palavra e da verdade, pode despertar nas pessoas a capacidade de compaixão e solidariedade criativa.

Na nossa experiência cristã, fazemos constantemente memória de Cristo, que deu a sua vida pela nossa reconciliação (cf. Rm 5, 6-11). A Igreja participa plenamente na busca duma ordem justa, continuando a servir o bem comum e a alimentar a esperança da paz, através da transmissão dos valores cristãos, do ensinamento moral e das obras sociais e educacionais.

3. A paz, caminho de reconciliação na comunhão fraterna

A Bíblia, particularmente através da palavra dos profetas, chama as consciências e os povos à aliança de Deus com a humanidade. Trata-se de abandonar o desejo de dominar os outros e aprender a olhar-se mutuamente como pessoas, como filhos de Deus, como irmãos. O outro nunca há de ser circunscrito àquilo que pôde ter dito ou feito, mas deve ser considerado pela promessa que traz em si mesmo. Somente escolhendo a senda do respeito é que será possível romper a espiral da vingança e empreender o caminho da esperança.

Guia-nos a passagem do Evangelho que reproduz o seguinte diálogo entre Pedro e Jesus: «“Senhor, se o meu irmão me ofender, quantas vezes lhe deverei perdoar? Até sete vezes?” Jesus respondeu: “Não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete”» (Mt 18, 21-22). Este caminho de reconciliação convida-nos a encontrar no mais fundo do nosso coração a força do perdão e a capacidade de nos reconhecermos como irmãos e irmãs. Aprender a viver no perdão aumenta a nossa capacidade de nos tornarmos mulheres e homens de paz.

O que é verdade em relação à paz na esfera social, é verdadeiro também no campo político e económico, pois a questão da paz permeia todas as dimensões da vida comunitária: nunca haverá paz verdadeira, se não formos capazes de construir um sistema económico mais justo. Como escreveu Bento XVI, «a vitória sobre o subdesenvolvimento exige que se atue não só sobre a melhoria das transações fundadas sobre o intercâmbio, nem apenas sobre as transferências das estruturas assistenciais de natureza pública, mas sobretudo sobre a progressiva abertura, em contexto mundial, para formas de atividade económica caraterizadas por quotas de gratuidade e de comunhão».[8]

4. A paz, caminho de conversão ecológica

«Se às vezes uma má compreensão dos nossos princípios nos levou a justificar o abuso da natureza, ou o domínio despótico do ser humano sobre a criação, ou as guerras, a injustiça e a violência, nós, crentes, podemos reconhecer que então fomos infiéis ao tesouro de sabedoria que devíamos guardar».[9]

Vendo as consequências da nossa hostilidade contra os outros, da falta de respeito pela casa comum e da exploração abusiva dos recursos naturais – considerados como instrumentos úteis apenas para o lucro de hoje, sem respeito pelas comunidades locais, pelo bem comum e pela natureza –, precisamos duma conversão ecológica.

O Sínodo recente sobre a Amazónia impele-nos a dirigir, de forma renovada, o apelo em prol duma relação pacífica entre as comunidades e a terra, entre o presente e a memória, entre as experiências e as esperanças.

Este caminho de reconciliação inclui também escuta e contemplação do mundo que nos foi dado por Deus, para fazermos dele a nossa casa comum. De facto, os recursos naturais, as numerosas formas de vida e a própria Terra foram-nos confiados para ser «cultivados e guardados» (cf. Gn 2, 15) também para as gerações futuras, com a participação responsável e diligente de cada um. Além disso, temos necessidade duma mudança nas convicções e na perspetiva, que nos abra mais ao encontro com o outro e à receção do dom da criação, que reflete a beleza e a sabedoria do seu Artífice.

De modo particular brotam daqui motivações profundas e um novo modo de habitar na casa comum, de convivermos uns e outros com as próprias diversidades, de celebrar e respeitar a vida recebida e partilhada, de nos preocuparmos com condições e modelos de sociedade que favoreçam o desabrochar e a permanência da vida no futuro, de desenvolver o bem comum de toda a família humana.

Por conseguinte a conversão ecológica, a que apelamos, leva-nos a uma nova perspetiva sobre a vida, considerando a generosidade do Criador que nos deu a Terra e nos chama à jubilosa sobriedade da partilha. Esta conversão deve ser entendida de maneira integral, como uma transformação das relações que mantemos com as nossas irmãs e irmãos, com os outros seres vivos, com a criação na sua riquíssima variedade, com o Criador que é origem de toda a vida. Para o cristão, uma tal conversão exige «deixar emergir, nas relações com o mundo que o rodeia, todas as consequências do encontro com Jesus».[10]

5. Obtém-se tanto quanto se espera[11]

O caminho da reconciliação requer paciência e confiança. Não se obtém a paz, se não a esperamos.

Trata-se, antes de mais nada, de acreditar na possibilidade da paz, de crer que o outro tem a mesma necessidade de paz que nós. Nisto, pode-nos inspirar o amor de Deus por cada um de nós, amor libertador, ilimitado, gratuito, incansável.

O medo é, frequentemente, fonte de conflito. Por isso, é importante ir além dos nossos temores humanos, reconhecendo-nos filhos necessitados diante d’Aquele que nos ama e espera por nós, como o Pai do filho pródigo (cf. Lc 15, 11-24). A cultura do encontro entre irmãos e irmãs rompe com a cultura da ameaça. Torna cada encontro uma possibilidade e um dom do amor generoso de Deus. Faz-nos de guia para ultrapassarmos os limites dos nossos horizontes estreitos, procurando sempre viver a fraternidade universal, como filhos do único Pai celeste.

Para os discípulos de Cristo, este caminho é apoiado também pelo sacramento da Reconciliação, concedido pelo Senhor para a remissão dos pecados dos batizados. Este sacramento da Igreja, que renova as pessoas e as comunidades, convida a manter o olhar fixo em Jesus, que reconciliou «todas as coisas, pacificando pelo sangue da sua cruz, tanto as que estão na terra como as que estão no céu» (Col 1, 20); e pede para depor toda a violência nos pensamentos, nas palavras e nas obras quer para com o próximo quer para com a criação.

A graça de Deus Pai oferece-se como amor sem condições. Recebido o seu perdão, em Cristo, podemos colocar-nos a caminho para ir oferecê-lo aos homens e mulheres do nosso tempo. Dia após dia, o Espírito Santo sugere-nos atitudes e palavras para nos tornarmos artesãos de justiça e de paz.

Que o Deus da paz nos abençoe e venha em nossa ajuda.

Que Maria, Mãe do Príncipe da paz e Mãe de todos os povos da terra, nos acompanhe e apoie, passo a passo, no caminho da reconciliação.

E que toda a pessoa que vem a este mundo possa conhecer uma existência de paz e desenvolver plenamente a promessa de amor e vida que traz em si.

Vaticano, 8 de dezembro de 2019.

[Franciscus]

 

[1] Bento XVI, Carta enc. Spe salvi, 30 de novembro de 2007, 1.

[2] Discurso sobre as armas nucleares, Nagasáqui – Parque «Atomic Bomb Hypocenter», 24 de novembro de 2019.

[3] Cf. Francisco, Homilia em Lampedusa, 8 de julho de 2013.

[4] Francisco, Discurso sobre a Paz, Hiroxima – Memorial da Paz, 24 de novembro de 2019.

[5] Conc. Ecum. Vat. II, Const. past. Gaudium et spes, 78.

[6] Cf. Bento XVI, Discurso aos dirigentes e membros das Associações Cristãs dos Trabalhadores Italianos (ACLI), 27 de janeiro de 2006.

[7] Carta ap. Octogesima adveniens, 14 de maio de 1971, 24.

[8] Carta enc. Caritas in veritate, 29 de junho de 2009, 39.

[9] Francisco, Carta enc. Laudato si’, 24 de maio de 2015, 200.

[10] Ibid., 217.

[11] Cf. São João da Cruz, Noite Escura, II, 21, 8.