Nascimento de Santa Rita
Santa Rita nasceu num pequeno povoado chamado Roccaporena, a 5 km de Cássia, bem no alto dos montes Apeninos, na província da Úmbria.
Úmbria, embora fosse na época uma região pouco povoada, tornou-se berço de muitos filhos ilustres, entre eles, São Francisco de Assis, São Bento e Santa Clara, além de Santa Rita. Os pais de Santa Rita, António Lotti e Amata Ferri, formavam um casal exemplar e eram conhecidos pelos seus amigos como “pacificadores de Jesus Cristo”. Gozavam de imenso prestígio e autoridade no meio daquela gente, pelas suas virtudes. A sua principal ocupação, para além do trabalho, era visitar os vizinhos mais necessitados, levando-lhes ajuda espiritual e material. Para que a sua felicidade fosse completa, faltava ao casal um filho. Apesar da idade avançada de Amata, Deus atendeu as suas preces, e, em 1381, nasceu esta admirável menina, que foi batizada na Igreja de Santa Maria dos pobres, em Cássia, porque o pequeno povoado de Roccaporena não possuía pia batismal. O nome de Rita, diminutivo de Margherita, foi o nome com que a Santa se tornou conhecida para sempre.
Quando António e Amata iam trabalhar nos campos, colocavam a sua filhinha num cesto de vime e abrigavam-na à sombra das árvores. Um dia, a criança dormia, quando um grande enxame de abelhas a envolveu, fazendo um zumbido especial. Muitas delas poisavam na sua boquinha entreaberta, como que depositando mel, sinal da doçura que havia de envolver toda a sua vida. Um lavrador que passava por ali, parou e agitou as mãos, pondo o enxame em debandada. O enxame, por instantes disperso, voltou ao seu lugar, e mais tarde, quando Rita foi para o mosteiro de Cássia, as abelhas instalaram-se nas paredes do jardim interior e aí permanecem até aos dias de hoje. A Igreja, tão exigente para aceitar as tradições, insere esta circunstância nas lições do Breviário.
Infância de Santa Rita
Rita era para os seus pais um precioso dom concedido à sua fé e orações. Procuraram transmitir à criança os seus conhecimentos da vida de Nosso Senhor Jesus Cristo, da Santa Virgem Maria e dos Santos de sua devoção. Apenas chegada ao uso da razão, apareceram em Rita os primeiros sinais de virtude, que, sob a influência da graça divina ia-se enraizando na sua alma. Rita era um anjo, dócil, respeitosa e obediente aos seus pais que tanto a amavam. Os ensinamentos que eles lhe transmitiam levaram-na a decidir consagrar a sua virgindade a Jesus Cristo.
Gostava tanto da vida retirada que seus pais lhe permitiram ter um oratório dentro de casa. Ali passava longo tempo em meditação, oração e sacrifício perante o “seu Cristo na cruz”, como ela dizia. Aos 16 anos pensava no modo de confirmar definitivamente a sua consagração a Jesus Cristo por meio dos votos perpétuos. Rita chegou a pedir, de joelhos, licença para entrar no convento. Seus pais, porém, com idade avançada e guiados por amor natural, não querendo deixá-la só neste mundo, resolveram casá-la com um jovem que pedira a sua mão. Que lutas, que dores de coração dessa jovem, entre o amor à virgindade e a obediência devida aos pais! Não tinha coragem de dar a um homem o coração que, desde a infância, consagrara a Deus e, por outro lado, causavam-lhe piedade os seus pais, já de idade avançada, aos quais se acostumara a obedecer nas mínimas coisas.
Casamento de Santa Rita
O jovem que pediu a mão de Rita chamava-se Paolo di Ferdinando Mancini, descrito como um jovem de formação bem diferente de Rita, pervertido, de caráter compulsivo, sem temor a Deus, capaz de provocar verdadeiro escândalo se Rita e seus pais não aceitassem o seu pedido de casamento. Assim, Rita viu-se obrigada a casar. Quanto padeceu ela ao longo de 18 anos que viveu com o seu esposo!
Injuriada sem motivo, não tinha uma palavra de ressentimento; maltratada não se queixava e era tão obediente que nem à Igreja ia sem permissão de seu marido. A mansidão, a docilidade e a prudência da esposa, lentamente, suavizaram aquela rude impetuosidade, de tal modo que Paolo não pode resistir a tanta abnegação e mudou completamente de vida, tornando-se um marido respeitoso. Rita sentiu-se muito feliz por ver o seu marido convertido ao bom caminho. Sentia-se feliz por poder educar, nos princípios da fé cristã, os dois filhinhos que, entretanto o céu lhes dera: João Tiago e Paulo Maria. Mas durou pouco tempo aquela felicidade de santa esposa e mãe! Quando menos esperava, seu marido foi ferozmente assassinado, fruto de fações rivais. Rita tomou todas as providências para uma sepultura digna de seu marido. Praticou ainda o ato supremo de perdoar aos seus assassinos.
Refeita da primeira dor causada pela morte do seu marido, Rita concentrou toda a sua atenção e solicitude nos seus dois filhos. A mãe, atenta, percebia que à medida que eles tomavam consciência da morte violente do pai, neles crescia um desejo de vingança. Para além dos seu exemplo e conselho de mãe, refugiava-se na oração, chegando mesmo a pedir a Deus que antes os queria ver mortos do que manchados pelo sangue de vingança. Um após outro, caíram doentes os seus meninos. Rita tratou-os com todo o cuidado, velando dia e noite para que nada lhes faltasse. Pedia a Jesus Crucificado que fosse feita neles a vontade de Deus. Os meninos morreram, com pequeno intervalo, um após outro. Rita depositou os corpos dos seus filhos ao lado do seu marido e ficou só. Só, mas com seu Deus.
Em busca do antigo sonho
Desligada dos laços do matrimónio e dos cuidados maternais pela morte do esposo e dos filhos, Rita passou a dedicar-se com afinco à prática das virtudes, às obras de caridade e à oração. Em tempo de lutas partidárias que dividiam vizinhos e famílias, Rita tornou-se um anjo de paz, procurando, por todos os meios ao seu alcance restabelecer a harmonia entre todos.
Tudo isto, porém, não bastava para satisfazer a sua alma inflamada pelo amor divino. Quando ia à cidade, ao passar diante das portas dos mosteiros onde teria podido servir a Deus com todas as suas forças, parecia-lhe que uma força interior e poderosa a atraía. Rita ganhou ânimo e resolveu fazer uma tentativa. Bateu à porta do convento das agostinhas de Santa Maria Madalena, por quem alimentava profunda admiração pela devoção que tinha a Santo Agostinho e por ter sido Santa Mónica, mãe de Santo Agostinho, seu modelo nos diversos estados de vida e tão parecida com ela no sofrimento. Expôs à superiora do convento o seu ardente desejo. O seu aspeto humilde e piedoso causou grande impressão na religiosa; mas o convento, que somente recebia jovens solteiras, jamais abriria as suas portas a uma viúva, e a pobre mulher viu-se rejeitada. Rita regressou à sua terra, Roccaporena, à sua vida de dedicação a Deus e aos vizinhos necessitados do seu amparo ou caridade. Ainda voltou várias vezes a pedir a entrada no convento, mas sempre o seu pedido foi rejeitado.
Estando uma noite em oração, pareceu-lhe ouvir uma voz que, repetidamente chamava: “Rita, Rita”. Abriu a porta e viu na sua frente os santos de sua devoção: Santo Agostinho, São João Batista e São Nicolau Tolentino. Segui-os em êxtase, e logo estava em Cássia, no coro do convento de Santa Maria Madalena.
Quando as religiosas se dirigiram ao coro para em comum rezarem o Ofício Divino, encontraram Rita, de joelhos em profunda meditação. Como entrou aqui? Era a pergunta que, estupefactas, faziam no seu interior todas as irmãs. Rita explicou. As freiras ficaram impressionadas com o relato e, diante de tal milagre, reconheceram os desígnios de Deus e admitiram-na, jubilosas, em sua companhia.
Vida no Convento
A primeira coisa que Rita fez, ao ser admitida no convento, foi repartir entre os pobres o que restava dos seus bens. A obediência era a regra de ouro do convento. As noviças eram postas à prova nesta virtude através, tantas vezes, de ordens aparentemente absurdas. Segundo a tradição, a superiora do convento ordenou a Rita que regasse de manhã e à tarde um tronco de videira ressequido e já destinado ao fogo. Rita não ofereceu dificuldade alguma, e com admirável simplicidade, cumpria essa tarefa diária. Passaram tempos e tempos… Mas um belo dia, as irmãs se assombraram: a vida reapareceu naquele tronco ressequido, surgiram brotos, apareceram folhas, e uma bela videira desenvolveu-se maravilhosamente, dando fruto a seu tempo. A videira ainda hoje lá está, viçosa, no convento.
Em 1443, na pregação da Quaresma, Rita ficou profundamente sensibilizada pelo sermão da Paixão de Nosso Senhor. Voltando ao Convento, profundamente emocionada pelo que ouvira, prostrou-se diante da imagem do crucifixo que se achava na capela interior, e suplicou ardentemente a Jesus que lhe concedesse participar dos seus sofrimentos. E eis que um espinho se destacou da coroa do crucifixo, veio a ela e cravou-se na sua fronte. Rita perdeu por tempos os seus sentidos.
Quando voltou a si, lá estava a ferida atestando o doloroso prodígio, ferida que a acompanhou durante quinze anos.
Em 1450 foi celebrado o jubileu em toda a cristandade e, como algumas irmãs se preparavam para ir a Roma, Rita manifestou um ardente desejo de as acompanhar, mas, pelo seu estado de saúde agravado pela ferida do espinho na fronte, as irmãs acharam que Rita não devia ir. Mais uma vez a oração foi mais forte: a ferida desapareceu, foi a Roma como era seu desejo. De regresso, a ferida reapareceu, causando-lhe grande sofrimento. Em meio das dores conservava sempre serenidade, e um sorriso encantador brilhava no seu rosto.
Morte de Santa Rita
Na última enfermidade, que durou quatro anos, veio visitá-la uma sua parenta: Rita agradeceu-lhe e, ao despedir-se, fez-lhe este pedido: vai ao jardim que fica ao lado da tua casa, e traz-me uma rosa. Era o mês de janeiro, quando os campos estão cobertos de neve e a vegetação morta. A parenta não deu crédito, pensando que Rita delirasse; contudo, para lhe ser agradável, dispôs-se a satisfazer-lhe o pedido. E, regressando a casa, viu, surgida da neve, uma linda rosa. Cortou-a e levou-a à enferma. Rita tomou-a nas suas mãos e colocou-a junto do seu Cristo.
O estado de saúde agravava-se e as dores tornavam-se insuportáveis. Rita, sabendo que em breve partiria para o Céu, pediu às irmãs que se aproximassem do seu leito e despediu-se com estas palavras:
“Chegou o tempo, de sair deste mundo. Deus assim quer. Muito vos ofendi por não vos ter amado e obedecido como era minha obrigação; com toda a minha alma vos peço perdão por todas as negligências e descuidos; reconheço que vos tenho molestado por causa desta ferida da fronte; rogo-vos que tenhais piedade das minhas fragilidades; perdoai minhas ignorâncias e rogai a Deus por mim, para que a minha alma alcance a paz e a misericórdia da clemência divina”
Sorriu, pareceu adormecer e… acordou no Céu.
Com 76 anos de idade e 40 de vida religiosa, faleceu Santa Rita em Cássia, no velho convento das Agostinhas, na noite de 22 de maio de 1457. No momento da sua morte os sinos de Cássia começaram a tocar, por mãos invisíveis, convidando a comunidade a participar na sua glorificação. O povo acorreu com archotes a aclamar como santa aquela que já veneravam em vida. Seus restos mortais repousam no Santuário de Cássia numa urna de prata e cristal fabricada em 1930.
Beatificação e Canonização
O culto a Santa Rita de Cássia rapidamente se estendeu pela Itália, Portugal e Espanha, onde, devido aos milagres obtidos por sua intercessão o povo lhe deu o nome de “Santa das causas impossíveis”. Depressa a sua veneração se estendeu ao mundo inteiro, especialmente ao Brasil, onde, para além de muitas igrejas e capelas a ela dedicadas, existe a matriz de Santa Rita, da arquidiocese do Rio de Janeiro, datada de 1577.
O Papa Urbano VIII, então bispo de Spoleto, a cuja diocese pertence Cássia, presenciou vários milagres. Assim que foi elevado à cátedra de São Pedro, mandou iniciar o processo de beatificação. Em 1627 aprovou a Celebração Eucarística em honra da Santa.
Muitos contratempos fizeram que se protelasse a canonização, que só em 24 de maio de 1900 se realizou, sob o pontificado de Leão XIII. Contudo, já em 1577 se erguia em Cássia uma igreja à Santa das causas desesperadas e impossíveis.
Pe. Avelino Silva