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Mensagem do Papa Francisco para a Quaresma 2025

Caminhemos juntos na esperança

Queridos irmãos e irmãs!

Com o sinal penitencial das cinzas sobre as nossas cabeças, iniciamos na fé e na esperança a peregrinação anual da Santa Quaresma. A Igreja, mãe e mestra, convida-nos a preparar os nossos corações e a abrir-nos à graça de Deus para podermos celebrar com grande alegria o triunfo pascal de Cristo, o Senhor, sobre o pecado e a morte, como exclamava São Paulo: «A morte foi tragada pela vitória. Onde está, ó morte, a tua vitória? Onde está, ó morte, o teu aguilhão?» ( 1Cor 15, 54-55). Realmente, Jesus Cristo, morto e ressuscitado, é o centro da nossa fé e a garantia da nossa esperança na grande promessa do Pai, já realizada n’Ele, Seu Filho amado: a vida eterna (cf. Jo 10, 28; 17, 3).

Nesta Quaresma, enriquecida pela graça do Ano Jubilar, gostaria de oferecer algumas reflexões sobre o que significa caminhar juntos na esperança e evidenciar os apelos à conversão que a misericórdia de Deus dirige a todos nós, enquanto indivíduos e comunidades.

Antes de tudo, caminhar. O lema do Jubileu – “Peregrinos de Esperança” – traz à mente a longa travessia do povo de Israel em direção à Terra Prometida, narrada no livro do Êxodo: a difícil passagem da escravidão para a liberdade, desejada e guiada pelo Senhor, que ama o seu povo e sempre lhe é fiel. E não podemos recordar o êxodo bíblico sem pensar em tantos irmãos e irmãs que, hoje, fogem de situações de miséria e violência e vão à procura de uma vida melhor para si e para seus entes queridos. Aqui, surge um primeiro apelo à conversão, porque todos nós somos peregrinos na vida, mas cada um pode perguntar-se: como me deixo interpelar por esta condição? Estou realmente a caminho ou estou paralisado, estático, com medo e sem esperança, acomodado na minha zona de conforto? Busco caminhos de libertação das situações de pecado e falta de dignidade? Seria um bom exercício quaresmal confrontar-nos com a realidade concreta de algum migrante ou peregrino e deixar que ela nos interpele, a fim de descobrir o que Deus pede de nós para sermos melhores viajantes rumo à casa do Pai. Esse é um bom “exame” para o viandante.

Em segundo lugar, façamos esta viagem juntos. Caminhar juntos, ser sinodal, é esta a vocação da Igreja. Os cristãos são chamados a percorrer o caminho em conjunto, jamais como viajantes solitários. O Espírito Santo impele-nos a sair de nós mesmos para ir ao encontro de Deus e dos nossos irmãos, e nunca a fechar-nos em nós mesmos. Caminhar juntos significa ser tecelões de unidade, partindo da nossa dignidade comum de filhos de Deus (cf. Gl 3, 26-28); significa caminhar lado a lado, sem pisar ou subjugar o outro, sem alimentar invejas ou hipocrisias, sem deixar que ninguém fique para trás ou se sinta excluído. Sigamos na mesma direção, rumo a uma única meta, ouvindo-nos uns aos outros com amor e paciência.

Nesta Quaresma, Deus pede-nos que verifiquemos se nas nossas vidas e famílias, nos locais onde trabalhamos, nas comunidades paroquiais ou religiosas, somos capazes de caminhar com os outros, de ouvir, de vencer a tentação de nos entrincheirarmos na nossa autorreferencialidade e de olharmos apenas para as nossas próprias necessidades. Perguntemo-nos diante do Senhor se somos capazes de trabalhar juntos ao serviço do Reino de Deus, como bispos, sacerdotes, pessoas consagradas e leigos; se, com gestos concretos, temos uma atitude acolhedora em relação àqueles que se aproximam de nós e a quantos se encontram distantes; se fazemos com que as pessoas se sintam parte da comunidade ou se as mantemos à margem. Este é o segundo apelo: a conversão à sinodalidade.

Em terceiro lugar, façamos este caminho juntos na esperança de uma promessa. A esperança que não engana (cf. Rm 5, 5), mensagem central do Jubileu, seja para nós o horizonte do caminho quaresmal rumo à vitória pascal. Como o Papa Bento XVI nos ensinou na Encíclica Spe salvi, «o ser humano necessita do amor incondicionado. Precisa daquela certeza que o faz exclamar: “Nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem o presente, nem o futuro, nem as potestades, nem a altura, nem a profundidade, nem qualquer outra criatura poderá separar-nos do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor” ( Rm 8, 38-39)». Jesus, nosso amor e nossa esperança, ressuscitou e, vivo, reina glorioso. A morte foi transformada em vitória e aqui reside a fé e a grande esperança dos cristãos: na ressurreição de Cristo!

Eis o terceiro apelo à conversão: o da esperança, da confiança em Deus e na sua grande promessa, a vida eterna. Devemos perguntar-nos: estou convicto de que Deus me perdoa os pecados? Ou comporto-me como se me pudesse salvar sozinho? Aspiro à salvação e peço a ajuda de Deus para a receber? Vivo concretamente a esperança que me ajuda a ler os acontecimentos da história e me impele a um compromisso com a justiça, a fraternidade, o cuidado da casa comum, garantindo que ninguém seja deixado para trás?

Irmãs e irmãos, graças ao amor de Deus em Jesus Cristo, somos conservados na esperança que não engana (cf. Rm 5, 5). A esperança é “a âncora da alma”, inabalável e segura. Nela, a Igreja reza para que «todos os homens sejam salvos» ( 1Tm 2, 4) e ela própria anseia estar na glória do céu, unida a Cristo, seu esposo. Santa Teresa de Jesus expressou isso da seguinte forma: «Espera, espera, que não sabes quando virá o dia nem a hora. Vela com cuidado, que tudo passa com brevidade, embora o teu desejo faça o certo duvidoso e longo o tempo breve» ( Exclamações, XV, 3).

Que a Virgem Maria, Mãe da Esperança, interceda por nós e nos acompanhe no caminho quaresmal.

Roma, São João de Latrão, na Memória dos Santos mártires Paulo Miki e companheiros, 6 de fevereiro de 2025.

                                                                                        FRANCISCO

Adoração Eucarística Diária

Durante este ano do Jubileu 2025, haverá Adoração ao Santíssimo Sacramento diária, das 9h00 às 11h00 e das 15h00 às 17h00.

São propostas as seguintes intenções de oração:

  • SEGUNDA FEIRA: pelo Santo Padre, pelas suas intenções e da Igreja.
  • TERÇA FEIRA: pela Paz no mundo.
  • QUARTA FEIRA: pelas famílias.
  • QUINTA FEIRA: pelas vocações sacerdotais, missionárias e religiosas.
  • SEXTA FEIRA: pelos doentes e seus cuidadores.

275 da Bênção da primeira pedra do Santuário de Santa Rita

O Santuário de Santa Rita, em Ermesinde, viveu no passado dia 12 de outubro, o Jubileu dos 275 anos da Bênção da primeira pedra. Foi em 12 de outubro de 1749 que o Bispo do Porto de então, procedeu à Bênção da primeira pedra daquele que seria o Mosteiro dos Eremitas Descalços de Santo Agostinho e da sua igreja. A história deste espaço começou em 1745, quando o casal Francisco da Silva Guimarães e Francisca Ribeiro da Silva fizeram a doação daquelas terras aos Frades Agostinhos.

Presidiu à Eucaristia, D. Manuel Linda, Bispo do Porto e concelebraram os Bispos auxiliares e eméritos residentes no Porto e uma dezena de sacerdotes. Na homilia, o Sr. D. Manuel sublinhou os valores do acolhimento, da união e da esperança que os peregrinos encontraram naquele Santuário Diocesano. No decorrer da celebração, procedeu-se à Bênção e dedicação do altar, ali colocado em 1974, aquando das obras de requalificação da Igreja, há 50 anos, e nele foi colocada uma relíquia de Santa Maria Margarida Alacoque. No Final da Eucaristia, o Senhor Bispo deu a todos os presentes a Bênção Apostólica, concedida pelo Papa Francisco, para este ano jubilar que termina a 31 de Dezembro de 2024.

Quaresma 2022 – O tempo favorável da escuta

«Eu respondi-te no tempo da graça e socorri-te no dia da salvação” (Is 49, 7). É promessa do próprio Deus que, em cada tempo favorável, não nos faltará com as suas graças, aquelas que sabemos precisar, mas sobretudo as que só o Espírito Santo sabe e pode dar.

Inicia a Quaresma, esse tempo favorável de escuta: escuta atenta da Palavra de Deus que renova, escuta do amor misericordioso de Deus que salva e escuta dos irmãos de caminho que pedem o melhor de nós. São 40 dias favoráveis a um percurso espiritual com consequências concretas e visíveis nas práticas cristãs da oração, do jejum e da esmola.

Porém, esta Quaresma de 2022 é tempo duplamente favorável: decorre em pleno tempo de escuta sinodal na nossa diocese. É uma fase de preparação do Sínodo, rica e envolvente, em que tudo inicia na necessidade de uma escuta renovada de Deus e dos irmãos, que ilumine, incentive e dê esperança no futuro. Um tempo que apela à reciprocidade: escutar e ser escutado. É bom não o esquecer: o Sínodo é um capítulo da história da salvação que Deus opera na Igreja universal. Podemos sonhar juntos uma Igreja diversa: mais gerada que gerida, mais caminho que estacionamento, mais casa do Povo de Deus em saída que clube de praticantes. Escutar a todos faz bem à própria Igreja.

Servem-nos três símbolos expressivos para viver juntos a experiência sinodal em tempo de Quaresma: o deserto, o caminho e a cruz.

1. O deserto 

Neste tempo favorável, a Liturgia do 1º domingo da Quaresma propõe-nos o relato das tentações de Jesus no deserto, convidando a olhar o lugar de Deus na própria vida e a qualidade da missão que nos anima. À tentação dos bens, do poder ou de uma missão triunfal, a Palavra ressoa forte: “nem só de pão vive o homem” ou “só a Deus adorarás”! 

O Processo Sinodal é também um processo espiritual. Não é um exercício mecânico de recolha de dados ou uma série de reuniões e debates. A escuta sinodal tem em vista o discernimento que é palavra-chave em todo o processo e a razão de toda a escuta. Num sentido espiritual, o discernimento é a arte de interpretar para onde nos conduzem os desejos do coração, sem nos deixarmos seduzir por aquilo que nos leva aonde não devemos ir. O discernimento envolve reflexão na tomada de decisões nas nossas vidas concretas para procurar encontrar a vontade de Deus.

Então comecemos por nós, entremos no deserto e a “deixemo-nos discernir pelo Espírito de Deus”!  Deserto é sinónimo de isolamento, de silêncio, de possibilidade de escuta de Deus e encontro com a verdade de nós próprios. Hoje há uma tremenda falta de silêncio e, quando não há ruído ou trabalho, muitas pessoas sentem-se incomodadas porque não sabem o que fazer. O deserto lembra esta oportunidade para nos deixarmos penetrar pelo Espírito de Deus, como indivíduos. O discernimento é, então, uma graça a acolher de Deus em relação ao que se é e se vive como discípulos de Jesus. 

A pergunta universal para a escuta sinodal é: “anunciando o Evangelho, uma Igreja sinodal ‘caminha em conjunto’: como é que este ‘caminhar juntos’ se realiza hoje na nossa Igreja?”. Neste deserto, podemos escutar pessoalmente o “silêncio onde Deus fala” e interrogar-nos: “como me sinto na Igreja? Sinto-me plenamente dentro, participando da missão comum ou nem por isso? O que me entristece? Como olho para os outros que, porque batizados, devem caminhar comigo e eu com eles? Como evangelizo na minha família, trabalho, escola ou grupo da paróquia? Que posso mudar em mim para caminharmos mais em conjunto? Que propostas tenho para fazer a Igreja mais de todos?”

A fidelidade, para ser verdadeira, é posta à prova; o deserto é então símbolo de purificação, de libertação de tudo o que é ambíguo e desviante na experiência de Deus. Para este completo discernimento de nós próprios, reconheceremos as nossas situações de não-liberdade: indiferença, autossuficiência, egoísmo, orgulho, presunção, agressividade, etc. Queixamo-nos destas escravidões todos os dias e limitamo-nos, porventura, a acusar a decadência da sociedade e também a da Igreja. 

Desta vez, vamos “desmascarar-nos” a nós próprios! Para nos lançarmos num caminho novo!

 2. O Caminho 

Após as tentações no deserto, Jesus deu início à missão: anunciar o Evangelho do reino. Para tal, chamou um grupo com quem caminhar, começou a ensiná-los ao longo do caminho, mergulhou-os no mistério da Sua Paixão, Morte e Ressurreição. Um longo caminho, sem pressas e sem queimar etapas. Só perceberiam plenamente quando, após a ressurreição, receberam o Espírito Santo.

Mais que para um Sínodo dos Bispos em 2023, o Papa convocou todo o Povo de Deus para um caminho sinodal, esperando que, por graça de Deus, no final, todos tenhamos adquirido um estilo mais participativo e mais sinodal de ser e viver em Igreja. Um estilo que, só por si, seja já evangelização. Cabem todos neste caminho, até os não praticantes, indiferentes ou descrentes. Que bela esta Igreja que se abre, que vai ao encontro, que se faz próxima, que ganha a confiança de quem a olha com desconfiança, que não se preocupa com os números, mas com as pessoas.

Com este símbolo do caminho, à semelhança de Jesus, somos convidados a cuidar da renovação dos grupos a que pertencemos, a procurar momentos de escuta e enriquecer o discernimento comunitário. Não se imaginam os frutos que brotariam numa família onde os seus membros se perguntassem uns aos outros: “que exemplo de ser Igreja vos tenho dado e que exemplo me dão vocês a mim? Como é que eu tenho sabido viver e comunicar o Evangelho na família? Quem o faz melhor cá em casa e pode ajudar os outros? Como nos temos aberto a outras famílias para caminharmos juntos? Como temos participado ativamente nas dinâmicas pastorais da paróquia e na evangelização do mundo? Como temos caminhado com os mais pobres e frágeis? Que propostas temos para fazer a Igreja mais familiar, mais fraterna?”

Para melhor encarnar a sinodalidade, as famílias com as suas histórias de diálogo e discernimento, de tensões e acordos, são essenciais. Elas sabem o que custa estar juntos, amarem-se nas diferenças, ouvir-se e dizer tudo com clareza, sem medo, porque sabem que vão ser escutados com amor! 

Isto pode ser replicado em cada grupo pastoral ou outro. Quem não se deixou ainda fascinar, pelo menos uma vez, pela possibilidade de uma paróquia viva, por uma liturgia participativa e bem animada, pelo ideal de família onde a conjugalidade fiel e fecunda é o sinal do amor de Deus, por uma catequese que envolva crianças e pais num único esforço educativo, por uma caridade testemunhada que chega aos últimos, pela possibilidade de uma justiça mais generalizada? Às vezes, talvez demasiadas, começámos! Depois, não vimos os resultados, que esperávamos serem automáticos e a curto prazo. E o desânimo chegou, como aos apóstolos: “Senhor, andámos à pesca a noite toda e não apanhámos nada!” Também este ano, Jesus repete: “Faz-te ao largo e lança as redes” (Lc 5, 1-1). Tudo isto, depende de mim, de ti, de nós! Depende de nos questionarmos juntos e de assumirmos as consequências de termos ousado a escuta… Porque Deus fala sempre. Se O deixarmos!

Fica a sugestão para uma penitência quaresmal coletiva: constituir ou participar num grupo de escuta sinodal, com as pessoas da família, mas também de grupo paroquial, de associação, escola ou outro, não para pedir opiniões, mas para fazer experiência da graça própria deste estilo sinodal. Qualquer local ou modo serve: em casa, num espaço de reuniões ou num ocasional encontro de amigos ou colegas, numa caminhada organizada ou num café, na igreja ou no mundo. Que ninguém fique de fora. A escuta não é para reivindicar, para acusar, para denunciar, mas para discernir caminhos novos para nós batizados, para as nossas comunidades eclesiais, para a Igreja e para o mundo. No final, ajudaria escrever a experiência feita e o que perceberam em conjunto. Quem sabe se não ganharão o gosto de continuar o caminho iniciado…

3. A cruz 

Este último símbolo é enriquecido com as imagens que nos chegam da peregrinação dos símbolos da Jornada Mundial da Juventude que percorrem as dioceses do país e chegarão até nós em outubro. Quando é transportada, precisa de um grupo que a carregue! Como se Cristo, o verdadeiro Senhor da cruz, fosse “esse grupo” de pessoas, unidas pelo ritmo conjunto da passada, jovens ou outros, que a levam com veneração. Ali, vimos sobretudo jovens centrados no Amor radical de que Jesus é modelo; jovens que mostram à Igreja a pressa do amor que une a todos numa única fraternidade; jovens que não querem ir à frente nem atrás dos mais velhos ou mais novos, de padres ou bispos, de leigos muito crentes ou homens descrentes, mas querem seguir juntos. São imagem da Igreja peregrina, não acomodada e envelhecida. Também podemos ir com eles, prontos a transportar a mesma cruz de Cristo nos sofrimentos próprios e nos da humanidade sofredora. Nela podemos descobrir a presença amorosa de Deus, sobretudo se, ao lado, alguém caminha e ajuda a carregá-la, qual mão amorosa, sinal da proximidade de Deus. 

Defendi-te e designei-te como aliança do povo, para …dizeres aos prisioneiros: ‘Saí da prisão!’ e aos que estão nas trevas: ‘Vinde à luz!’ (Is 49, 8-9). Neste percurso quaresmal em estilo sinodal, somos desafiados a interrogar-nos sobre quem deixamos sozinhos no caminho, quais as periferias abandonadas ou ignoradas, quais são os mais carenciados de companheiros de estrada, para discernir por quem começar e com quem ir. É-nos pedida uma intenção “agápica” de acolher a todos como Jesus fez até ao fim (Jo 13, 1), até ao dom de si na cruz, de caminhar com eles até “sairem das prisões e abandonarem as trevas” como diz o Profeta. E isto significa a intenção de escutar, de compreender a partir de dentro, de dar o primeiro passo, de se fazer um, de saber esperar e de saber dar a sua contribuição no momento certo e do modo certo. 

É necessário manter vivo o entusiasmo pelos caminhos novos, para não ir pelos de sempre que podem apenas parecer mais seguros, mas não conduzem a uma Páscoa Nova. Gostaríamos de atalhos rápidos, enquanto Deus escolhe a gradualidade e tempos longos fazendo-nos entender que a Páscoa não é um lugar ou algo material, mas uma forma de ser novo, renovado, nas relações com Deus, com nós mesmos, com os outros e com a criação: “Serei o teu Deus e serás o meu povo” (Ex 6,7).

Este entusiasmo, que é também força e coragem, chega-nos da certeza de que Jesus caminha com a Sua Igreja, levando-a por onde deve ir. Tudo depende da nossa vontade de responder ao convite de Deus com uma palavra simples, mas capaz de mudar a história. É o nosso “aqui estou”: estou aqui pronto para o caminho!

D. Manuel Linda

D. Pio Alves

D. Armando Domingues

D. Vitorino Soares

Mensagem do Papa Francisco para a Quaresma 2022

 

Queridos irmãos e irmãs!

A Quaresma é um tempo favorável de renovação pessoal e comunitária que nos conduz à Páscoa de Jesus Cristo morto e ressuscitado. Aproveitemos o caminho quaresmal de 2022 para refletir sobre a exortação de São Paulo aos Gálatas: «Não nos cansemos de fazer o bem; porque, a seu tempo colheremos, se não tivermos esmorecido. Portanto, enquanto temos tempo (kairós), pratiquemos o bem para com todos» (Gal 6, 9-10a).

 

1. Sementeira e colheita

Neste trecho, o Apóstolo evoca a sementeira e a colheita, uma imagem que Jesus muito prezava (cf. Mt 13). São Paulo fala-nos dum kairós: um tempo propício para semear o bem tendo em vista uma colheita. Qual poderá ser para nós este tempo favorável? Certamente é a Quaresma, mas é-o também toda a nossa existência terrena, de que a Quaresma constitui de certa forma uma imagem.[1] Muitas vezes, na nossa vida, prevalecem a ganância e a soberba, o anseio de possuir, acumular e consumir, como se vê no homem insensato da parábola evangélica, que considerava assegurada e feliz a sua vida pela grande colheita acumulada nos seus celeiros (cf. Lc 12, 16-21). A Quaresma convida-nos à conversão, a mudar mentalidade, de tal modo que a vida encontre a sua verdade e beleza menos no possuir do que no doar, menos no acumular do que no semear o bem e partilhá-lo.

O primeiro agricultor é o próprio Deus, que generosamente «continua a espalhar sementes de bem na humanidade» (Encíclica Fratelli tutti, 54). Durante a Quaresma, somos chamados a responder ao dom de Deus, acolhendo a sua Palavra «viva e eficaz» (Heb 4, 12). A escuta assídua da Palavra de Deus faz amadurecer uma pronta docilidade à sua ação (cf. Tg 1, 19.21), que torna fecunda a nossa vida. E se isto já é motivo para nos alegrarmos, maior motivo ainda nos vem do chamamento para sermos «cooperadores de Deus» (1 Cor 3, 9), aproveitando o tempo presente (cf. Ef 5, 16) para semearmos, também nós, praticando o bem. Este chamamento para semear o bem deve ser visto, não como um peso, mas como uma graça pela qual o Criador nos quer ativamente unidos à sua fecunda magnanimidade.

E a colheita? Porventura não se faz toda a sementeira a pensar na colheita? Certamente; o laço estreito entre a sementeira e a colheita é reafirmado pelo próprio São Paulo, quando escreve: «Quem pouco semeia, também pouco há de colher; mas quem semeia com generosidade, com generosidade também colherá» (2 Cor 9, 6). Mas de que colheita se trata? Um primeiro fruto do bem semeado, temo-lo em nós mesmos e nas nossas relações diárias, incluindo os gestos mais insignificantes de bondade. Em Deus, nenhum ato de amor, por mais pequeno que seja, e nenhuma das nossas «generosas fadigas» se perde (cf. Exortação Evangelii gaudium, 279). Tal como a árvore se reconhece pelos frutos (cf. Mt 7, 16.20), assim também a vida repleta de obras boas é luminosa (cf. Mt 5, 14-16) e difunde pelo mundo o perfume de Cristo (cf. 2 Cor 2, 15). Servir a Deus, livres do pecado, faz amadurecer frutos de santificação para a salvação de todos (cf. Rm 6, 22).

Na realidade, só nos é concedido ver uma pequena parte do fruto daquilo que semeamos, pois, segundo o dito evangélico, «um é o que semeia e outro o que ceifa» (Jo 4, 37). É precisamente semeando para o bem do próximo que participamos na magnanimidade de Deus: constitui «grande nobreza ser capaz de desencadear processos cujos frutos serão colhidos por outros, com a esperança colocada na força secreta do bem que se semeia» (Encíclica Fratelli tutti, 196). Semear o bem para os outros liberta-nos das lógicas mesquinhas do lucro pessoal e confere à nossa atividade a respiração ampla da gratuidade, inserindo-nos no horizonte maravilhoso dos desígnios benfazejos de Deus.

A Palavra de Deus alarga e eleva ainda mais a nossa perspetiva, anunciando-nos que a colheita mais autêntica é a escatológica, a do último dia, do dia sem ocaso. O fruto perfeito da nossa vida e das nossas ações é o «fruto em ordem à vida eterna» (Jo 4, 36), que será o nosso «tesouro no céu» (Lc 18, 22; cf. 12, 33). O próprio Jesus, para exprimir o mistério da sua morte e ressurreição, usa a imagem da semente que morre na terra e frutifica (cf. Jo 12, 24); e São Paulo retoma-a para falar da ressurreição do nosso corpo: «semeado corrutível, o corpo é ressuscitado incorrutível; semeado na desonra, é ressuscitado na glória; semeado na fraqueza, é ressuscitado cheio de força; semeado corpo terreno, é ressuscitado corpo espiritual» (1 Cor 15, 42-44). Esta esperança é a grande luz que Cristo ressuscitado traz ao mundo: «Se nós temos esperança em Cristo apenas para esta vida, somos os mais miseráveis de todos os homens. Mas não! Cristo ressuscitou dos mortos, como primícias dos que morreram» (1 Cor 15, 19-20), para que quantos estiverem intimamente unidos a Ele no amor, «por uma morte idêntica à sua» (Rm 6, 5), também estejam unidos à sua ressurreição para a vida eterna (cf. Jo 5, 29): «então os justos resplandecerão como o sol, no reino do seu Pai» (Mt 13, 43).

 

2. «Não nos cansemos de fazer o bem»

A ressurreição de Cristo anima as esperanças terrenas com a «grande esperança» da vida eterna e introduz, já no tempo presente, o germe da salvação (cf. BENTO XVI, Spe salvi, 3; 7). Perante a amarga desilusão por tantos sonhos desfeitos, a inquietação com os desafios a enfrentar, o desconsolo pela pobreza de meios à disposição, a tentação é fechar-se num egoísmo individualista e, à vista dos sofrimentos alheios, refugiar-se na indiferença. Com efeito, mesmo os melhores recursos conhecem limitações: «Até os adolescentes se cansam, se afadigam, e os jovens tropeçam e vacilam» (Is 40, 30). Deus, porém, «dá forças ao cansado e enche de vigor o fraco. (…) Aqueles que confiam no Senhor renovam as suas forças. Têm asas como a águia, correm sem se cansar, marcham sem desfalecer» (Is 40, 29.31). A Quaresma chama-nos a repor a nossa fé e esperança no Senhor (cf. 1 Ped 1, 21), pois só com o olhar fixo em Jesus Cristo ressuscitado (cf. Heb 12, 2) é que podemos acolher a exortação do Apóstolo: «Não nos cansemos de fazer o bem» (Gal 6, 9).  

Não nos cansemos de rezar. Jesus ensinou que é necessário «orar sempre, sem desfalecer» (Lc 18, 1). Precisamos de rezar, porque necessitamos de Deus. A ilusão de nos bastar a nós mesmos é perigosa. Se a pandemia nos fez sentir de perto a nossa fragilidade pessoal e social, permita-nos esta Quaresma experimentar o conforto da fé em Deus, sem a qual não poderemos subsistir (cf. Is 7, 9). No meio das tempestades da história, encontramo-nos todos no mesmo barco, pelo que ninguém se salva sozinho;[2] mas sobretudo ninguém se salva sem Deus, porque só o mistério pascal de Jesus Cristo nos dá a vitória sobre as vagas tenebrosas da morte. A fé não nos preserva das tribulações da vida, mas permite atravessá-las unidos a Deus em Cristo, com a grande esperança que não desilude e cujo penhor é o amor que Deus derramou nos nossos corações por meio do Espírito Santo (cf. Rm 5, 1-5).

Não nos cansemos de extirpar o mal da nossa vida. Possa o jejum corporal, a que nos chama a Quaresma, fortalecer o nosso espírito para o combate contra o pecado. Não nos cansemos de pedir perdão no sacramento da Penitência e Reconciliação, sabendo que Deus nunca Se cansa de perdoar.[3] Não nos cansemos de combater a concupiscência, fragilidade esta que inclina para o egoísmo e todo o mal, encontrando no decurso dos séculos vias diferentes para fazer precipitar o homem no pecado (cf. Encíclica Fratelli tutti, 166). Uma destas vias é a dependência dos meios de comunicação digitais, que empobrece as relações humanas. A Quaresma é tempo propício para contrastar estas ciladas, cultivando ao contrário uma comunicação humana mais integral (cf. ibid., 43), feita de «encontros reais» (ibid., 50), face a face.

Não nos cansemos de fazer o bem, através duma operosa caridade para com o próximo. Durante esta Quaresma, exercitemo-nos na prática da esmola, dando com alegria (cf. 2 Cor 9, 7). Deus, «que dá a semente ao semeador e o pão em alimento» (2 Cor 9, 10), provê a cada um de nós os recursos necessários para nos nutrirmos e ainda para sermos generosos na prática do bem para com os outros. Se é verdade que toda a nossa vida é tempo para semear o bem, aproveitemos de modo particular esta Quaresma para cuidar de quem está próximo de nós, para nos aproximarmos dos irmãos e irmãs que se encontram feridos na margem da estrada da vida (cf. Lc 10, 2537). A Quaresma é tempo propício para procurar, e não evitar, quem passa necessidade; para chamar, e não ignorar, quem deseja atenção e uma boa palavra; para visitar, e não abandonar, quem sofre a solidão. Acolhamos o apelo a praticar o bem para com todos, reservando tempo para amar os mais pequenos e indefesos, os abandonados e desprezados, os discriminados e marginalizados (cf. Encíclica Fratelli tutti, 193).

 

3. «A seu tempo colheremos, se não tivermos esmorecido»

Cada ano, a Quaresma vem recordar-nos que «o bem, como aliás o amor, a justiça e a solidariedade não se alcançam duma vez para sempre; hão de ser conquistados cada dia» (ibid., 11). Por conseguinte, peçamos a Deus a constância paciente do agricultor (cf. Tg 5, 7), para não desistir na prática do bem, um passo de cada vez. Quem cai, estenda a mão ao Pai que nos levanta sempre. Quem se extraviou, enganado pelas seduções do maligno, não demore a voltar para Deus, que «é generoso em perdoar» (Is 55, 7). Neste tempo de conversão, buscando apoio na graça divina e na comunhão da Igreja, não nos cansemos de semear o bem. O jejum prepara o terreno, a oração rega, a caridade fecunda-o. Na fé, temos a certeza de que «a seu tempo colheremos, se não tivermos esmorecido», e obteremos, com o dom da perseverança, os bens prometidos (cf. Heb 10, 36) para salvação nossa e do próximo (cf. 1 Tm 4, 16). Praticando o amor fraterno para com todos, estamos unidos a Cristo, que deu a sua vida por nós (cf. 2 Cor 5, 14-15), e saboreamos desde já a alegria do Reino dos Céus, quando Deus for «tudo em todos» (1 Cor 15, 28).

A Virgem Maria, em cujo ventre germinou o Salvador e que guardava todas as coisas «ponderando-as no seu coração» (Lc 2, 19), obtenha-nos o dom da paciência e acompanhe-nos com a sua presença materna, para que este tempo de conversão dê frutos de salvação eterna.

 

Roma, em São João de Latrão, na Memória litúrgica do bispo São Martinho,

11 de novembro de 2021.

Papa Francisco

 

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[1] Cf. SANTO AGOSTINHO, Sermones 243, 9,8; 270, 3; Enarratio in Psalmis 110, 1.
[2] Cf. FRANCISCO, Momento extraordinário de oração em tempo de pandemia (27 de março de 2020).
[3] Cf. IDEM, Angelus de 17 de março de 2013.

Homilia de Sua Excelência Revma D. Edgar Peña Parra, Substituto da Secretaria de Estado do Vaticano

Santuário de Santa Rita – Ermesinde

20 de fevereiro de 2022 

 

Excelências Reverendíssimas,

Reverendo Padre Reitor,

Reverendos Padres, Religiosos e Religiosas,

Irmãos e Irmãs,

Feliz por celebrar convosco o Dia do Senhor neste Santuário, trago a saudação e a bênção do Santo Padre para todos vós, amados irmãos e irmãs! De bom grado partilho alguns pensamentos que suscitou em mim a Palavra de Deus, agora proclamada. Em abono da verdade, tenho de dizer que o texto evangélico de hoje não parece exigir particulares comentários; mas, sim, muita coragem para ser posta em prática. «Amai os vossos inimigos, fazei bem àqueles que vos odeiam; bendizei àqueles que vos amaldiçoam, orai por aqueles que vos maltratam» (Lc 6, 27-28): são palavras que deixam fora de cena uma conduta religiosa «prudente»; palavras que chegam mesmo a subverter o bom senso: desde que existe o homem na terra, ao mal responde-se com o mal e ao bem com o bem.

Jesus vai além disto, muito mais além, até ao inverosímil, chegando a pontos de pedir o amor aos inimigos, de dizer: «dá a todo aquele que te pedir e, ao que levar o que é teu, não lho reclames» (6, 30). Notemos que não atenua sequer o conceito, ajuntando que, entretanto, a pessoa que pede deve pelo menos fazê-lo com gentileza, ou que o inimigo deve dar algum sinal de degelo. Fica-se estonteado e apetece perguntar: como é possível? O Senhor não sabe que, seguindo à letra este Evangelho, nós, discípulos, viveríamos como perdedores e muitos se aproveitariam de nós? Mas Jesus não quer saber; antes, aumenta a dose e, alguns versículos depois, reitera o conceito, repete – um facto muito raro no Evangelho de Lucas – o que disse: «Amai os vossos inimigos» (6, 35). Para cúmulo da surpresa, notemos que o Senhor não nos dirige piedosas exortações ou convites declináveis, mas exigências concretas e taxativas.

Uma coisa, porém, há que sublinhar: Jesus não pretende que se nos tornem agradáveis os nossos inimigos, nem que demos a quem quer que seja. Não nos pede para forçar as sensações: de facto, segundo as suas palavras, os inimigos permanecem inimigos e dar continua a ser um sacrifício. Ele sabe que não é possível iludir o sentimento que nos vem do coração. Mas recomenda que nos empenhemos ao nível de opções, seguindo um único critério: responder ao mal com o bem (cf. Rm 12, 21) e tomando nós a iniciativa, sem esperar que os outros mudem e se arrependam. Em última análise, Jesus não nos pede que nos comprazamos, mas que nos amemos. E amar-nos é uma coisa muito concreta, segundo o que Ele acrescenta: «fazei bem e emprestai, sem nada esperar em troca» (Lc 6, 35). Perante esta radicalidade, surgem espontaneamente pelo menos duas perguntas. A primeira: por que motivo o Senhor chega ao ponto de nos pedir tudo isto? A segunda: como podemos pô-lo em prática?

Porque é que Jesus nos pede isto? O Evangelho avança um motivo só: para ser «filhos do Altíssimo, que é benigno para com os ingratos e os maus» (6, 35). É o único motivo! De facto, o Senhor resume tudo, dizendo «sede misericordiosos, como o vosso Pai é misericordioso» (6, 36). Esta é a diferença – reiterada três vezes –com quantos Jesus chama «pecadores»: são aqueles que não conhecem o Pai e, por conseguinte, vivem segundo padrões de juízo puramente humanos. Ser ícones do amor do Pai: eis a diferença dos cristãos no mundo. Queridos irmãos e irmãs, muitas vezes temo-nos distinguido e distinguimo-nos como cristãos pelo que acreditamos, pelas posições que assumimos a respeito de Deus, do homem, da sociedade, das opções morais e políticas. Hoje, porém, o Evangelho leva-nos a uma essencialidade radical: testemunhar o modo de proceder do Pai, o seu amor incondicional e fiel por todos, sem cálculos nem distinções. Eis a diferença cristã: viver sem ser contra alguém, mas por todos. É exigente; todavia, segundo o Senhor, é o melhor caminho para evangelizar, porque é o que melhor revela o Pai. E nisto, caríssimos, creio que cada um de nós precisa de melhorar.

Passemos então à segunda e fundamental questão: Como colocar em prática o que Jesus pede? Alguém disse que, entre o dito do Evangelho e a sua prática, há a mesma diferença que subsiste entre a música escrita e a música tocada. Continuo no contexto da metáfora musical, inspirando-me no grande órgão de tubos deste Santuário, cujo vigésimo aniversário recordamos hoje. Como se sabe, o órgão, apesar de composto por mecanismos mecânicos refinados que são acionados pelo toque humano, conta-se entre os instrumentos musicais «de sopro» em que o som se deve principalmente às modulações do ar e não tanto à percussão humana. Deixando a metáfora… Para que a partitura do Evangelho seja executada no mundo, não bastam mecanismos pastorais comprovados e em bom funcionamento. É preciso «um sopro», um ar puro que vem de fora e não pode ser fabricado. É necessário o Espírito Santo. É Ele o sopro divino que transforma os nossos gestos e o nosso compromisso naquela «música da alma» que toca os corações e muda a história. Caso contrário, todo o esforço é vão.

Pensemos no exemplo talvez mais eloquente a este respeito: o dos apóstolos, colunas da Igreja. A sua história está repleta de incongruências e fracassos, que os Evangelhos não escondem. Mas a partir do momento em que desceu sobre eles o Espírito Santo, teve lugar uma mudança irreversível. A sua humanidade não se tornou perfeita e irrepreensível, mas operou-se neles uma inversão: se antes o centro da vida era o próprio eu, depois do Pentecostes o centro passou a ser Deus, e o objetivo da vida era imitá-lo, sem medo de amar até à loucura e até passar através da cruz para se assemelharem a Ele. Por isso o Espírito Santo é o segredo para ajustar a nossa vida à harmonia do Evangelho. Com Ele, é possível viver tudo o que Jesus nos pede hoje.

Ao contrário, sem o Espírito de amor, não seremos capazes de amar como Jesus deseja. Isto, já nós o sabemos; o mais difícil é traduzir na prática esta convicção, ou seja, recordar-se de rezar ao Espírito Santo para que intervenha precisamente nisto: na nossa capacidade de amar. Com frequência, pedimos-Lhe inspiração, conselho, fortaleza, ajuda para iniciativas pessoais e eclesiais, mas seria conveniente pedir-Lhe com insistência a capacidade de cumprir aquilo que o Senhor recomenda acima de tudo: pôr em prática o mandamento do amor. Ser-nos-á útil habituar-nos a invocar o Espírito e dirigir-nos a Ele mediante a Palavra que Ele próprio inspirou. Sendo assim, por que não dedicar alguns momentos nos próximos dias para O invocar e reler o Evangelho de hoje? Poderíamos deixar este pequeno texto na mesinha de cabeceira e, ao longo de toda a semana, assimilá-lo na oração. Fazer ressoar em nós as suas palavras é o primeiro passo para as acolher e pôr em prática.

Um Padre da Igreja, Santo Isaac de Nínive, escreveu uma coisa surpreendente a propósito das deficiências dos cristãos. Escreveu que «o maior pecado é não acreditar nas energias da ressurreição» (Sermões Ascéticos, I, 5). Pode parecer uma afirmação estranha, mas é plenamente coerente com o que temos vindos a dizer. Quer-nos dizer que a culpa dos crentes e das comunidades cristãs ao longo dos séculos foi, acima de tudo, nivelar-se, não acreditar profundamente nas «energias» que só o Espírito Santo, autor de toda a ressurreição, provê. De facto, só Ele é que introduz no mundo uma vida nova, a do amor que dá a vida, capaz de superar os limites da condição humana.

Caríssimos, este santuário recorda-nos que o Espírito está em ação e realiza maravilhas nos homens. Um exemplo disso são os Santos, que O deixaram agir nas suas vidas, e um modelo excelente disto mesmo é Santa Rita, a quem está dedicado este templo. Pensemos nesta jovem do século XIV, filha de pais idosos que se opunham à sua vocação religiosa e deram-na em casamento a um jovem de temperamento colérico e impetuoso. Confiante na Providência, Rita conseguiu transformar o caráter do marido, através duma santa paciência evangélica e da caridade extraordinária que hauria da fé. Viveu depois a tragédia da morte violenta do marido, assassinado numa emboscada, e o medo pela sorte dos filhos, envolvidos na série de vinganças que se desencadeara. A este mal, respondeu sempre com as armas do bem, com a tenacidade da oração e a generosa oferta da vida. Quando, finalmente, pôde consagrar-se ao Senhor, viu o seu pedido rejeitado por três vezes. Finalmente aceite, viveu quarenta anos de intensa vida religiosa, rica em obras de pacificação entre as fações do país, sem considerar inimigo nenhum daqueles que lhe tinham feito mal a ela e à sua família.

Esta vida representa uma extraordinária melodia evangélica. Habitualmente esta Santa é representada diante do Crucifixo, muitas vezes com um espinho da coroa de Cristo espetado na testa, em memória dum episódio místico que a carateriza. Isto é ilustrativo também para nós: o Senhor redimiu o mundo com a cruz e pede-nos para continuar a sua obra com a força suave do Espírito e segundo os seus caminhos, purificando o mal do mundo unicamente com o ar puro do Evangelho. Neste sentido, somos chamados a transformar, com humildade e perseverança, o mal em bem: fazer como as árvores, que absorvem a poluição e a transformam em oxigénio. Santa Rita é conhecida como «a santa dos impossíveis». Mas a sua vida extraordinária de mulher, esposa, mãe e religiosa não recorreu a meios fulgurantes e extraordinários; moveu o impossível com a terna força da cruz e a docilidade ao Espírito Santo.

Amados irmãos e irmãs, hoje gostaria de rezar para que o Espírito desperte em cada um de nós a beleza da própria vocação: sermos ícones vivos do Pai no mundo, templos do Espírito Santo, membros que se unem a Cristo no seu sacrifício de salvação. Que o pensamento da sublimidade da nossa vocação aumente o nosso zelo e nos motive dia a dia a «tornar música o Evangelho» onde vivemos.

Bênção das Mães Grávidas

No IV Domingo do Advento, convidamos as mães grávidas para a celebração de Bênção. Será na eucaristia das 10.30, no Santuário de Santa Rita.
Todas das senhoras grávidas que queira participar, devem fazer a sua inscrição, na reitoria do Santuário, ou através do email: reitoria@santuariodesantarita.pt.

Dia Nacional dos Avós 2020

Hoje, na peregrinação mensal a Santa Rita, recordámos os avós de Jesus, São Joaquim e Santa Ana. Este dia “é uma oportunidade para dar graças, abraçar e celebrar a presença dos avós no passado e no presente, ir às próprias raízes e descobrir neles a ternura e o amor de Deus”, referem os bispos católicos portugueses.

Este ano, a Comissão Episcopal do Laicado e Família (CELF) convida-nos a celebrar o “tesouro” que os avós representam, muito especialmente neste tempo particular que vivemos.

É tempo de defender os tesouros que estão à nossa guarda. Protegê-los “com cuidado e admiração”. “Uma sociedade que não protege, não cuida, não admira os mais velhos, está condenada ao fracasso”, (CELF).

Fica aqui a mensagem para ler na íntegra. Boa leitura e bom dia dos avós.

 

Todos família. Todos irmãos: por uma pastoral vivida em espírito sinodal

D. Manuel Linda apresentou no dia 26 de junho o Plano Diocesano de Pastoral 2020/2021. Num tempo de “emergência pastoral”, nas palavras de D. Armando, bispo auxiliar do Porto, o plano destaca “A importância dos leigos” na vida da Igreja, “A família, Igreja Doméstica”, “A renovação da Catequese”, “O plano digital e o Cuidado da Casa Comum”, “Os jovens, motores da transformação” e “De uma Pastoral por setores a uma pastoral por projetos”.

Conheça o Plano Pastoral mais a fundo. Não desanimemos, pois “em cada realidade e evento humano está a ação criadora de Deus, que comunica a cada ser a sua bondade e o Seu Amor Misericordioso renovador” (D. Armando Domingues).

 

Conhecer o Plano Pastoral 2020/2021

Festa de Santa Rita

No dia 14 de junho de 2020 celebrou-se a festa de Santa Rita, no Santuário de Rita em Ermesinde. Foi elevada a afluência de crentes. Fica a mensagem do Reitor.


“Homilia na festa de Santa Rita 2020

Quero saudar afetuosamente os meus irmãos no sacerdócio, o Senhor Pe Avelino e o Senhor Pe José Augusto, quero saudar-vos a todos vós, que aqui viestes neste dia de memória de Santa Rita, saúdo de modo particular, todos aqueles que nos acompanham através da internet, particularmente, os jovens, os doentes e as crianças. Por todos invoco a interceção de Santa Rita, para que o Senhor vos abençoe, vos proteja e vos salve.

Este ano vivemos esta festa em tempos de pandemia e por isso com cuidados e numa modalidade mais simplificada para o bem de todos. Não temos o nosso santuário repleto, fisicamente, mas está repleto da presença espiritual de tantos irmãos nossos, que na sua oração e na sua fé, se unem a todos nós.

Muitas vezes acorremos a este santuário, para venerar a imagem de Santa Rita. Gostamos de estar perto dela, há uma alegria que nos envolve, uma força que nos alimenta a esperança e reaviva a nossa fé. Veneramos a grandeza do seu amor ao Senhor Jesus, morto e Ressuscitado e a beleza da misericórdia entranhada na sua vida.

Escutamos a palavra do Senhor que nos trás este belo discurso de Jesus que nos ensina a viver o amor, a dádiva e a bondade até ao absurdo: “Vós, porém, amai os vossos inimigos, fazei o bem” (Lc 6, 35) . Aqui esta a grandeza da nossa identidade cristã: amar sempre, até os nossos inimigos, se for necessário e até ao fim, como o Mestre.

Santa Rita aprendeu a viver este amor sem limites e sem medida. O seu desejo era consagra-se a Deus. Mas na sua simplicidade, também foi capaz de perceber que o mesmo Deus lhe pedia para percorrer um caminho de entrega e provação. Aceitou a vontade de Deus e compreendeu que nela estava a sua oportunidade de santificação.

Amou até ao fim e sem medida o seu esposo de feitio violento, fazendo tudo para transformar o seu coração; amou até ao fim e sem medida a vida dos filhos, poupando-os do desejo de vingança pela morte do Pai; amou até ao fim e sem medida perdoando aos assassinos do próprio marido e trouxe a paz às duas famílias. A caridade, a bondade, a paciência e a humildade eram marcas que brotavam do imenso amor que vivia.

Santo Agostinho pediu às mulheres consagradas “que seguissem o Cordeiro por onde quer que fosse e contemplassem com os olhos interiores as chagas do Crucificado, as cicatrizes do Ressuscitado e o sangue daquele que morria” (De Sancta Virginatate). Santa Rita imprimiu na sua vida a vontade de ser discípula do Crucificado e “perita do no sofrer”aprendeu a entender os sofrimentos do coração humano. Por isso, se tornou defensora dos pobres e dos desesperados.

Num mundo, muitas vezes marcado pela inveja que mata o nosso íntimo, pelo ódio que leva à morte e pela violência que destrói – onde, por causa disso, encontramos refugiados, guerras, opressão política, discriminação económica ou racial – o cristão é chamado a ser portador da esperança, da ternura e do amor, à imagem de Santa Rita.

Sendo também, nesse mesmo mundo instrumento da bondade, da paciência e da humildade. Rita de Cassia ensina-nos que é possível vencer o mal com o bem. Vencer sem combater e abraçar, absorver e absolver as nossas raivas e os nossos ódios. O segredo está na fidelidade ao Amor crucificado.

É urgente viver o Amor sem limites e até ao fim, no mundo a partir da célula mais pequena da sociedade, a família. Procurando no Senhor Jesus, que morreu por nós, a força para vivermos a missão da unidade, da caridade e da fidelidade no seio das nossas famílias. Principalmente, nos momentos de crise e de sofrimento.

E aqui, mais uma vez, o texto do Evangelho toca a nossa reflexão: “sede misericordiosos como o vosso Pai é misericordioso” (Lc 6, 36). Por isso não podemos julgar, nem condenar, mas perdoar, perdoar, perdoar sempre. Perdoar: é, sem dúvida, um sentimento fundamental para a felicidade, e felicidade, no evangelho, quer dizer santidade.

Faz eco, nesta nossa reflexão, a Palavra de Deus escutada na primeira leitura: sede Santos, porque eu, o Senhor, vosso Deus, sou Santo (Lv 19, 2). Tudo isto foi visível em Santa Rita, na sua heroica condição de esposa, mãe e viúva e mais tarde como consagrada. Se queremos ser santos, precisamos de amar sempre e perdoar sempre.

“Alegrai-vos sempre no Senhor” (Filip 4, 4). É particularmente significativa a insistência do Apóstolo: “novamente vos digo: Alegrai-vos”. É esta Alegria Maior que é preciso saborear. Abrir-se à presença do Senhor Jesus que vem ao nosso encontro e toca o nosso coração para o transformar. E fazer a experiencia da pobreza ensinada no sermão da montanha: vivendo a humildade, sentindo-se pobre no íntimo do próprio ser.

Rejeitando a tentação do orgulho, deixar de pensar em si próprio, sabendo reconhecer os próprios erros e pedir perdão a Deus que nunca se cansa de nos perdoar, “sem esperar nada em troca”. E seguir o exemplo de Santa Rita, como nos recorda o Papa Francisco, “que foi capaz de amar mais o maior valioso bem que a si mesma. Santa Rita confiou-se e entregou-se a Cristo, sem dúvidas e incertezas” (Audiência 20.02.20).

Caríssimos Irmãos e irmãs, invoquemos a proteção e intercessão de Santa Rita, para todos nós e para todas as nossas famílias. Que nos ajude e proteja o mundo inteiro, neste tempo de sofrimento e provação. Que ela ajude todos os profissionais de saúde a encontrar caminhos e soluções para a salvação de todos. E “cantemos, cantemos, em louvor de Santa Rita, testemunha de Deus, bondade infinita. Cantemos, em louvor de Santa Rita” Amem.”

14 de junho de 2020

Pe Samuel Guedes, Reitor