Aos Sacerdotes e Diáconos
e a todos os fiéis da Diocese do Porto
Na sua providência amorosa e paterna, o nosso Deus concedeu-nos a graças de se reunirem as condições para voltarmos a celebrar a nossa fé de maneira comunitária e retomarmos a vida económico-social em condições relativamente normais. Damos-Lhe graças por isso. Levaremos a dimensão religiosa muito a sério e aproveitaremos esta circunstância que abalou o mundo para tentar corrigir aspetos que necessitam de humanização, especialmente no campo das relações familiares e sociais e na economia.
A pandemia que vivemos e continua aguda em muitas partes do mundo deixou enormes situações de pobreza e debilitou ainda mais os que já eram débeis. Infelizmente, como sabemos, a pobreza nunca esteve ausente do nosso contexto social. Mas a situação que vivemos, além dos abalos na saúde e vida de tantos, fez enormes estragos, entre outros, na sustentabilidade financeira de muitas pessoas e de famílias inteiras. A fome é uma realidade!
Movidos pela consciência pessoal e, ainda mais, pela responsabilidade originada na fé, cada um, cada uma, de acordo com as suas circunstâncias e possibilidades, procure responder, como ser humano e como cristão, a esta emergência social. Esta pandemia da pobreza e das dificuldades de todo o género, ao contrário da virológica, não se combate com isolamento social mas com a proximidade pessoal, afetiva e efetiva.
Temos de pensar no nosso contexto local e nacional, mas, porventura, também a nível internacional. O Coronavírus está a causar imenso sofrimento em muitas partes do mundo. Porém, até agora, parece ter-se disseminado mais entre os «ricos» da Europa e América do Norte. Mas se atinge África, em força? Teremos de nos comprometer com esses que, de forma habitual, já são os mais pobres dos pobres.
Entre nós, estão a surgir iniciativas belíssimas, certamente motivadas pelo Espírito de Deus que faz “novas todas as coisas” (Ap 21, 5). Por exemplo, a responsabilidade de famílias que «adotam» ou «apadrinham» outras, quer economicamente, quer na proximidade que afasta a solidão, a violência doméstica, o desânimo, etc. Não será este um modelo a generalizar? Sejamos generosos. Pensemos nos outros, pois, pensar somente em nós, é egoísmo.
Sem querer instrumentalizar este apelo, também não se esqueça que a família paroquial – a paróquia, com as suas estruturas e servidores – está, em muitos casos, entre estes necessitados. O confinamento, nas casas como nas paróquias, não pagou compromissos assumidos. Estejamos atentos, também, a estas necessidades.
Finalmente, seja-me permitido relembrar o que já tinha sugerido: já que não se vão realizar as festas patronais de verão, não se poderia encaminhar os dinheiros que se pensava gastar com elas para as grandes necessidades sociais, concretamente para os sem-abrigo, destino indicado pela nossa Diocese para a partilha quaresmal?
O vosso bispo e irmão,
+Manuel, Bispo do Porto