Mensagem do Bispo do Porto no Dia Mundial do Doente
A Igreja celebra o Dia Mundial do Doente desde 1992. Fá-lo a 11 de Fevereiro, memória litúrgica de Nossa Senhora de Lurdes, devoção muito ligada às peregrinações de enfermos e às curas.
No início, esta temática estava muito centrada na pessoa e condição do doente: pretendia exprimir solidariedade com quem sofre, levar-lhe uma palavra de esperança e incentivá-lo a unir a sua dor à obra salvífica de Cristo. Com o tempo, esta visão foi-se alargando até se acentuar que, real ou potencialmente, todos somos doentes. E que é nesta condição que se jogam as grandes coordenadas da existência pessoal e coletiva: timbre de relacionamento, forma de viver o sofrimento, perspetiva holística da saúde, questão do sentido da vida, relação com o meio ambiente, humanismo e técnica, investimento em estruturas de saúde, etc.
Pretende alertar que o crescimento humano e civilizacional não se verifica somente nas ciências e tecnologias, mas confirma-se, muito mais, na qualidade das relações que formos capazes de estabelecer com os frágeis, parte integrante do nosso ser familiar ou social. As primeiras nascem da ciência da razão; as outras originam-se na sabedoria do coração. Ambas são importantes. Mas que o encanto das primeiras não nos faça esquecer a pertinência e a primazia das segundas.
Sim, o timbre de desenvolvimento de uma sociedade também se pode medir pelos «indicadores de qualidade» da forma como se relaciona com os seus doentes. Há que dedicar-lhes mais tempo, mais proximidade, mais carinho, mais gestos e palavras de conforto. E até mais recursos humanos e materiais. Há que estabelecer prioridades e, porventura, deixar de lado aspectos não tão determinantes para ter tempo de sentar à cabeceira do doente e do idoso e pegar-lhe na mão. Há que exprimir em gestos de ternura o amor que se diz ter-lhes.
Paulo VI gostava muito de falar da «civilização do amor». Jamais se edificará se não começarmos pelos carenciados dos carenciados: os doentes e idosos. É preciso promover com o carinho e o afeto a sua condição ofuscada pela dor.
Precisamente o contrário do que fazem os construtivistas sociais, os políticos: em vez da dedicação, que custa, promovem a eliminação, que é fácil. E até assobiam para o lado, como que para festejar a «modernidade» da «brilhante» obra feita. A nossa visão, porém, é diametralmente oposta.
D. Manuel Linda, Bispo do Porto