D. Manuel Linda: Dilatação da fé

    O Senhor Bispo do Porto, D. Manuel Linda, deixa-nos uma mensagem semanal sobre os “idealismos” e “reducionismos”. Para refletir.

    “Numa liberdade típica dos poetas, Camões sintetiza a obra dos descobrimentos portugueses como dilatação da “fé e do império”. Será isto um embarcar em idealismos ou reducionismos?

    Ele sabe que muitos fatores estão na génese e no objetivo dessa gesta. Mas também não duvida que uma luz que não acende outras lamparinas acaba por se extinguir: inerente à fé está a sua difusão. Uma condiciona a outra. Positivamente.

    De facto, tal como na primitiva comunidade apostólica, o «Portugal profundo» sentiu um impulso irresistível em tornar outros participantes dessa originalidade que é “a vida nova em Cristo”. Porque descobriu a Igreja como sinal e meio da união de todos os homens, fez dela instrumento de uma nova ordem mundial. Assumiu, pois, a difusão da fé como responsabilidade pelo bem do mundo. E fê-lo com zelo, enviando muitos para o desconhecido em nome da comunidade crente. Enviou e envia, que a missão não terminou.

    Os recursos, porém, nunca foram totais. Por isso, a realidade obrigou a que, nas Igrejas de recente fundação, se concedesse às bases, ao laicado, o que, na Europa, a poeira da história reservou para um sistema piramidal: a responsabilidade pela organização da comunidade crente. Assim, enquanto, entre nós, se exige ao padre que esteja em tudo, trate de tudo e mande em tudo –ou ele o exige…-, na missão são os leigos quem evangeliza, coordena, estrutura, decide e gere a assembleia dos fiéis. Com consequências: o clericalismo de cá produziu o anticlericalismo sistémico; a laicidade de lá sustenta a fé, mesmo quando os pastores escasseiam.

    Celebramos as Missões. Normalmente, pensamos na saída da Europa para África ou Ásia e na ajuda a fornecer. E, nas atuais circunstâncias, assim tem de ser. Forçosamente. Mas não teremos nós de aprender com a forma muito mais «apostólica» de organização das comunidades ditas de missão?

    Hoje, missão é dar e receber. Nem que seja o exemplo. E a estrutura muito mais dinâmica, comprometedora, de responsabilidades compartidas das novas Igrejas são um exemplo para esta Europa velha e cansada que procura nos padres e nos bispos uma bengala para se apoiar na vivência de uma fé dormente. E, mesmo assim, sabe Deus…

    Missão como dilatação da fé? Com certeza. Mas dilatação lá e cá. Porque se lá necessitam do nosso contributo, nós precisamos de colher o seu exemplo de organização e alegria da sua vivência religiosa.”

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